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Alexandre Bastos: a invenção do personagem


No ano 2000 eu exercia o cargo de Editor de Opinião do Correio do Estado. Todos os domingos produzia e editava a página de entrevistas do jornal. Essa iniciativa mantém-se até hoje, agora nas mãos da competente jornalista Cristina Medeiros. 

Naquela época, recebi orientação da Diretoria de Jornalismo do CE para encontrar novos personagens e pessoas que se destacavam pelo saber, conhecimento técnico, opiniões polêmicas, mas estavam geralmente fora da mídia por razões que aqui não vem o caso analisar. 


O jornal estava correto: queria encontrar novas fontes para divulgar assuntos novos que estavam fora do radar da mídia. 


O assunto do momento, na ocasião, era o debate que se travava em torno da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). 


Conversando com o assessor de imprensa do Tribunal de Contas do Estado, jornalista Flávio Teixeira, perguntei a ele quem poderia, seguindo alguns pré-requisitos, conceder entrevista sobre o assunto e, posteriormente, servir de fonte para acompanhar a pauta. 


Passado alguns dias ele me veio com o nome: advogado Alexandre Bastos. 


Nunca tinha ouvido falar. 

Ele dava consultoria ao TCE e orientava prefeitos, via Assomassul, sobre a nova lei que vinha para "revolucionar os costumes políticos brasileiros". 


Marquei uma conversa com Bastos para fazer as sondagens de praxe. 


Gostei dele. Bem falante, raciocínio claro, conhecimento aprofundado do tema. 


Fiz a entrevista, publiquei, repliquei dois ou três editoriais sobre o assunto, repisamos dois ou três artigos de sua autoria.


Ele escrevia bem, enfim, tinha tudo para ser uma celebridade na área. 


A partir daí ele se tornou referência na imprensa. Quando o assunto era contas públicas, lá estava ele falando como "consultor especializado".


Ficou relativamente famoso e ingressou na política da OAB, tendo sido candidato à presidente da Instituição etc, etc. 


Com a fama veio a inveja, ele andou se metendo em algumas esparrelas no TCE, depois com consultorias estranhas de sua empresa chamada Consalegis, enfim, coisas do jogo.


Sua escolha para ocupar vaga do Quinto Constitucional foi polêmica. 


Na classe dos advogados, cada um fala uma coisa. 


O homem é amado e odiado. Como todos nós que nos colocamos para o debate público, sofremos com divergências pessoais e institucionais. É um mundo complicado.

Alexandre tem qualidades e defeitos. 


Só que gratidão não é seu forte.