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Rio de Janeiro: eu sou você amanhã


O Rio de Janeiro conversou com vários Estados. Ele explicou com clareza inaudita: "olha, o que sou hoje você será amanhã". O Mato Grosso do Sul ouviu e continuou tomando tereré. No final do bate papo, a República de Maracaju pronunciou-se: "essa crise não vai acontecer com a gente porque somos um governo austero, temos uma gestão eficiente e uma grande equipe de trabalho". 

O Mato Grosso, que estava ao lado, ouviu e deu uma risadinha. E deu seu pitaco: "não adianta viver de ilusões, a receita é menor do que as despesas, estamos maquiando números com a ajuda dos Tribunais de Contas, mas o fato é que a folha de salário é astronômica, os aposentados consomem quase todo o orçamento, o pagamento da cúpula do judiciário está muito acima do teto, enfim, a conta não fecha e chegará uma hora que não vai ter dinheiro para consertar uma ponte quebrada". 

O Paraná arrematou: "é isso mesmo. Nossa dívida é impagável. A arrecadação está caindo. O desemprego é imenso. O povo está parando de consumir. A indústria está parando de produzir. O Governo Federal está perdido. A pajelança que estamos vendo só vai nos levar ainda mais para o buraco. Não adianta tapar o sol com a peneira".

O Rio de Janeiro voltou à conversa: "vocês devem ter lido na imprensa hoje. O Sérgio Cabral foi preso por corrupção. O Garotinho foi preso ontem comprando votos. De cima abaixo deixamos roubar demais, aumentamos salários mais de 70% acima da inflação. Confiamos naquele papo dos royalties do petróleo. O banditismo tomou conta. Deixamos correr soltos os privilégios para ganhar eleições. Agora, não tem mais jeito, é esse caos que estamos vendo. Se eu fosse vocês começaria a usar mais da palavra NÃO. Deputados são insaciáveis. Secretários de Estados são vorazes. Juízes, promotores e defensores públicos só enxergam seus próprios umbigos... E os empreiteiros, então?"

Mato Grosso do Sul entrou novamente na conversa:"tudo isso que vocês estão falando é a realidade. Mas a nossa economia é forte. Nossa agropecuária está em expansão, aumentamos a área cultivada, vamos produzir mais esse ano, então, não acredito que vamos ser o Rio de Janeiro (com todo respeito)  amanhã. Nossos salários estão em dia, apesar que estamos enrolando os fornecedores, atrasando um pouco o repasse para os poderes e alguns municípios, enfim, estamos conseguindo manobrar o orçamento e sobreviver..."

O Rio fez uma intervenção: "há dois anos nós também fizemos isso, ou seja, enrolamos, manobramos, remanejamos, mas o problema é que isso se afunila e aumenta o tamanho do abismo. Se você não entender isso, a população vai se sentir enganada lá na frente."

Fez uma pausa e continuou: "estou aqui como amigo e alertando sobre o que pode acontecer. Meu conselho: reduza o tamanho do Estado, proíbam contratações, corte verbas publicitárias, esclareça a sociedade sobre o verdadeiro problema, sem medo de críticas, preservando somente saúde, educação e segurança pública. O resto que espere..."

Houve um silêncio. Até que Mato Grosso do Sul perguntou para os demais: "e se perdemos a eleição de 2018?". 

Todos os demais se entreolharam e pensaram: "esse logo logo será o próximo Rio de Janeiro".