Prefeitura de Campo Grande: o que vem pela frente
O senso de realismo de Marquinhos Trad fez com que sua campanha eleitoral fosse de baixa expectativa. Ou seja: ao contrário de sua principal adversária, Rose Modesto, não prometeu um outro mundo caso fosse eleito.
Na verdade, seu marketing percorreu o caminho da extrema modéstia, sem delírios grandiloquentes nem promessas quiméricas.
Marquinhos não criou na cabeça do eleitor fantasias populistas nem estabeleceu metas audaciosas para a cidade. Prevaleceu (para a irritação de muita gente) a política do arroz-com-feijão. Sorte sua.
Reiterou que, primeiro, faria um profundo diagnóstico da cidade para depois realizar um plano de trabalho que pudesse atender questões emergenciais, na linha de assistir a população mais carente em primeiro lugar, desenvolvendo programas sociais nas áreas de educação e saúde, tentando ao mesmo tempo dar um freio de arrumação nas finanças do município.
Noutras palavras, o óbvio; embora, necessário.
Mesmo assim, não será fácil. A equipe de transição de Marquinhos está procedendo os principais levantamentos, mas já se sabe que o quadro é complicado.
A nova administração parece que começa com uma conta negativa de mais de R$ 500 milhões.
No setor de obras públicas são várias frentes a serem atendidas. A conclusão das obras do anel viário (22 quilômetros), o incremento da operação tapa-buraco e as reformas estruturais em escola e postos de saúde.
Há também a prioridade das prioridades: a exclusão da prefeitura do CADIN e da obtenção da CRP (Certidão de Regularidade Previdenciária ).
Esse processo é muito importante.
Campo Grande está negativada, impedida de receber recursos federais alocados por convênios porque continua com restrições no CAUC (Cadastro Único de Convênios).
A população não entende direito essa sopa de letras, mas sem esses documentos liberatórios os investimentos não são feitos e o dinheiro não gira. Daí, a máquina fica emperrada.
Nesse processo, está pendurado um empréstimo já viabilizado junto ao Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), da ordem de US$ 56 milhões (algo em torno de 218 milhões de reais), que será aplicado no Programa Viva Campo Grande II para a revitalização do centro de Campo Grande.
Esse recurso é importante porque movimenta o comércio local, e, em médio prazo, dará impacto fundamental na estrutura urbana da cidade.
Campo Grande precisa fazer a virada.
É provável que 2017 seja um ano complicado para os governantes do País.
Marquinhos sabe que terá que atravessar um período difícil, de contenção e austeridade, segurando demandas, estabelecendo critérios claros de gestão e, mais importante, criando um modelo de transparência inédito na cidade.
No primeiro momento, deve fazer um diagnóstico compartilhado com a classe política e com a população.
No segundo, mostrar os resultados e executar aquilo que é fundamental para possibilitar um ritmo razoável de crescimento econômico da comunidade.
A sociedade campo-grandense sabe que o quadro a ser encontrado não será róseo.
Há 4 anos a cidade vem passando por turbulências político-administrativas fora do normal. Numa visada geral, não se pode culpar ninguém especificamente por isso.
O caos não é obra individual. O desastre, no nosso caso, foi coletivo e sistemático. Se fosse fulanizar talvez a lista ultrapassasse mais de mil nomes.
Essa narrativa - culpabilidade e responsabilidade - ainda está em construção. Mas o passado pertence a ele. O que se precisa analisar é quais são os pontos de intersecção entre os erros cometidos e quais medidas precisam ser adotadas para corrigir rumos.
O Ministério Público e o Poder Judiciário estão aí para trabalhar na penalização dos acusados.
Não será fácil melhorar Campo Grande. Mas também não será impossível. Uma trégua para os ímpetos dos interesses individuais e uma redução nos apetites políticos serão importantes nesse momento.
Espera-se que o futuro prefeito consiga construir um ambiente de paz para reconstruir uma cidade nervosa e aflita.
Do jeito que as coisas estão, será conveniente torcer por ele.