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O narcismo inviabiliza comunicação governamental


Leio aqui e ali que o Governo Azambuja vai alterar a política de comunicação do governo. Áulicos e gênios do setor divulgam que farão isso e aquilo. Enfim, a ideia é criar novos mecanismos que possam "melhorar" a imagem do governador e da administração de modo geral. 



Como sou um sujeito colaborativo e torço para que tudo dê certo para a República de Maracaju, recomendo que os novos jornalistas, publicitários e comunicadores do pedaço leiam o livro "O Estado de Narciso - a comunicação pública a serviço da vaidade particular"
(Companhia das Letras, 2015, 247 páginas) do jornalista e professor da USP, ex-presidente da Radiobrás, Eugênio Bucci. 




Sei de antemão que leitura não é o forte da turma de Azambuja. Até porque ali, se aparecer alguém com esse perfil profissional, não dura três meses no emprego. Eles detestam gente "teórica"; eles gostam, na verdade, de pessoas que fazem "negócios". 




Mesmo assim, sou ingênuo e acredito na boa vontade entre os homens e tenho fé na humanidade.




Portanto, imagino que por mais esforço que fizerem para "mudar" a comunicação, nada vai acontecer. 

De nada adianta criar uma embalagem bonita se o defeito está no produto. Assim segue a vida...




Vamos à obra de Bucci. Ele abre o livro falando logo de cara que "a comunicação pública no Brasil virou um palanque partidário, um negócio lucrativo, uma passarela para a vaidade particular e, sem exagero nenhum, uma arma a serviço da guerra eleitoral". 




O texto segue em frente desvendando os meandros históricos sobre como chegamos a esse estágio da comunicação pública no Brasil, estimulando a picaretagem, valorizando a corrupção e desprezando a inteligência das pessoas. 




"A cada ano o dinheiro público financia planos bilionários para tomar de assalto e adestrar a vontade dos cidadãos (...) Em suma, a engrenagem de promoção de autoridades é mais ou menos como um tanque de guerra fantasiado de carro alegórico esfuziante, em apoteose carnavalesca in interrupta. Ela não vê os brasileiros como foliões livres, mas como presas". 




E assim segue o jornalista, mostrando a dissociação entre o verdadeiro interesse público com o interesse político do governante de plantão, gastando um dinheirão para celebrar a vaidade e negando-se a criar mecanismos de esclarecimento e facilitação democrática da sociedade, de forma que ela compreenda como funciona o Estado e como pode ajudar a fiscalizar a máquina, reivindicar direitos e ter informações educativas para melhorar sua qualidade de vida. 




Vou citar um trecho do livro que considero relevante: "No Brasil, a estetização do Estado - e, particularmente, e estetização de sucessivos governos, que buscam escrever narrativas próprias - gerou uma indústria especializada de mídia (e de entretenimento) que terminou por fabricar a linguagem dominante da própria prática política. Essa linguagem, com seu léxico tipicamente de mercado, oriundo da publicidade comercial, conseguiu, além de desfigurar a política, retirar o discurso o discurso político de seu território histórico, o espaço público político, e recolocá-lo no território do consumo, algo como um espaço público mercadológico. Essa linguagem conseguiu redefinir a proeza de redefinir os elementos da política como mercadoria". 




Segundo o "Estado de Narciso", a comunicação pública no Brasil - tanto faz em qual esfera do poder ela aconteça - trata-se de um "empreendimento bélico". A chamada "política de comunicação" é assim "posta a serviço da vaidade dos políticos, subordinada ao apetite de um negócio de monta, conduzida pela ambição eleitoral dos partidos instalados no poder", fazendo com que a "supermáquina da comunicação oficial",atue 24 horas por dia como uma "força militar em guerra imaginária para conquistar mentes e corações da platéia". 




Enfim, a ideia é transformar a imprensa num instrumento de propaganda oficial e a propaganda oficial numa extensão da imprensa. A mídia tem que fingir que é isenta e que atua com liberdade os governos fingem que dissimulam esse jogo de cena pagando a conta do negócio. E assim  a roda gira. 




Até quando?