Pages

CPI dos Fantasmas e a lenda da kombi queimada


O presidente da Assembléia Legislativa, Júnior Mochi, quando fomentou e articulou a denúncia de que Marquinhos Trad era funcionário fantasma da Casa, ficou alegrinho da silva e achou que tinha, enfim, robustecido seu cacife junto à República de Maracaju. 

Com o mesmo espírito público que lhe é peculiar, o denunciante, candidato do PPS Athayde Nery, viu nessa história a chance de manter suas famosas bocas governamentais.

Depois, como se viu, o tiro saiu pela culatra, porque Marquinhos resolveu dobrar a aposta e solicitar a formalização de uma CPI para investigar as relações funcionais no parlamento estadual desde 1986, ou seja, coisa de 30 anos atrás. 

Criou-se uma grife para isso: "CPI dos Fantasmas".

Muitos deputados prepararam, assim, a famosa operação abafa. O combinado era o seguinte: jogariam o abacaxi um no colo do outro até que o assunto fosse esquecido, debitado na conta de mais uma armação de campanha eleitoral. 

Mas eis que surge gravação esquisitíssima na imprensa, mostrando uma conversa inconveniente entre os deputados Paulo Corrêa (que anda sumido) e Felipe Orro (que flutua por aí em verdadeiro estado de aflição), sobre "ponto eletrônico" e "ponto manual" de funcionários comissionados em seus respectivos gabinetes. 

Na conversa, percebeu-se com clareza inaudita que há milhares de funcionários assombrando todos os poderes.

O assunto requentou-se. A OAB entrou na jogada. Advogados requereram a cassação dos parlamentares. E o contribuinte passou a gritar, chamando a Assembléia da Casa da mãe Joana. 

Hoje, mais uma vez, a mídia noticiou que Mochi endossou a "CPI dos Fantasmas", reclamando que o pedido de Marquinhos tem falha no objeto e que o prazo de três décadas pode inviabilizar a investigação. Ou seja: está fazendo a última tentativa para criminalizar o acusado. 

Mochi tem preocupações válidas: onde estão os arquivos da Assembléia? Como coletar e separar essa imensa papelada? Quantas pessoas e em quanto tempo isso poderá ser realizado? A que custo?

É nesse momento que aparece a história da "kombi " de nosso título. Trata-se de uma lenda urbana.

Anos atrás apareceu um projeto nas mãos do deputado Londres Machado propondo digitalizar toda a documentação da Casa de Leis. 

Nomeações, lista de presença, notas fiscais, salários e benefícios funcionais, documentos contábeis, recibos, transferência de recursos etc, etc,etc, tudo ficaria inscrito num sistema informatizado. 

Tratava-se, enfim, de modernizar procedimentos, dar transparência, melhorar o fluxo de informação, enfim, formar um imenso banco de dados que pudesse agilizar os procedimentos de controle interno. 

Quando apresentaram o orçamento os deputados pularam pra trás. Era um ervanário que o Estado não dispunha. 

Foi então que um gênio da contabilidade da Assembléia teve uma ideia fantástica: todo final de ano a papelada do exercício anual seria colocada numa kombi caindo os pedaços e seria transportada até um depósito na periferia da cidade. 

Só que a kombi nunca chegava ao seu destino. Ela sempre pegava fogo no meio do caminho. 

Nunca ninguém quis saber os motivos ou se importou com isso.

Como se disse, uma lenda urbana.