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Alexsandro Nogueira: Escracho do esquisito


Guardei minha vida num pedaço de pano encharcado de lágrimas. Por lá fiquei esquecido num deserto de almas, onde cultivo meus rancores. Talvez ali eu encontre a certeza de que sou devoto da solidão. 

E o amor, tem pra se vender no balcão? Ah, do amor não tenho certeza de nada, ficou cabreiro perto de mim. Acho que o matei por tantas vezes que, sei-lá, escapuliu ou evaporou. 

Mesmo assim, respeito o homem comum que sabe amar: dorme entusiasmado como um idiota, acorda feliz com o céu de fundo azul e celebra a vida ao entardecer. Tim-tim. 

Chego em seguida para lhe dizer a verdade. Conto que vive uma mentira, um engodo pra aliviar a vida real, na necessidade de fugir da rotina.

Sou esquisito. Carrego comigo uma nuvem negra e um vento gelado que sopra nos cantos da ala. 

Tenho uma flor de Guanaco que fenece por falta de água, enquanto eu observo a distância entre os corpos. Mas sei corresponder quando sou amado: os olhos triscam, os lábios se colam e o coração acelera. E sou canalha como qualquer um quando preciso dizer I love you

Agora dei pra ficar por aí em soluços a passos descoordenados. É a vertigem da meia idade que me apavora. Se eu me encontrar, prometo tomar conta de mim. E então? Enquanto isso, colho meus cacos na desordem. Logo me levanto, para pedir perdão.