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O PSDB e a República de Maracaju


O PSDB não é um partido de direita. Usando esse critério, o partido tem as multifacetas dos espectros ideológicos da política brasileira; mesmo assim, ainda considero que o tucanato ocupa o espaço concedido à social-democracia brasileira no que tange ao conjunto de seu pensamento teórico. 

Nesse sentido, o PT também é social democrata, assim como o PPS. As diferenças estão nos subgrupos que formam o conjunto da militância e das direções partidárias, que fazem uma mixórdia entre um liberalismo envergonhado e um socialismo de salão. 

No conjunto, o PSDB está cada vez mais destinado ao centro e à direita. 

Mas nos seus núcleos mais intelectualizados - com pessoas formadas pelos ideais libertários de 68 e contrários à ditadura militar, especificamente no caso do Brasil - ainda há a defesa teórica de um modelo de capitalismo com forte presença regulatória do Estado para garantir equilíbrios das demandas sociais, principalmente numa sociedade atrasada como a brasileira. 

Num mundo ideal, partidos como PSDB, PT, PDT, PPS, PSB e parcela do PMDB poderiam formar uma só agremiação, refletindo um conjunto ideológico abrangente que pudesse criar uma agenda consistente de mudança histórica no Brasil. 

Seria um partido de centro-esquerda à brasileira, mas que, em momentos específicos, contemplaria o centro e a direita nos chamados grotões nacionais. 

Sei que é muito complicado pensar ideologicamente a política brasileira, dada a diversidade e desigualdade regional, mas seria útil que existisse algum tipo de programa básico unificador para estabelecer linhas programáticas que pudessem dar outro tipo de eficácia ao Estado brasileiro, nos libertando do populismo e do patrimonialismo. 

Dito tudo isso - ainda é pouco, mas vá lá - o PSDB de Mato Grosso do Sul padece dos problemas gerados pelo macrocosmo de nossa política, e que acrescenta os defeitos do microcosmo, qual seja, a de ter uma direção de direita com fortes pendores do coronelismo do século XIX. 

O núcleo mais à esquerda, ou social-democrata - chamada também de "históricos" - além de ser minoritário dentro do partido, terminou aceitando os erros políticos da chamada "República de Maracaju" porque foram atraídos pela máquina fisiológica do governo, ou porque temem represálias diretas porque perceberam que o comando faz um jogo bruto com quem tem pensamento divergente. 

Ou seja, a RM manietou e obscureceu o senso crítico exercido por aqueles que poderiam ajudar a vitalizar o PSDB com relações democráticas do ponto de vista interno. Quem pia fora do ninho, não somente é perseguido, como passa a ser hostilizado na extensão de suas relações familiares e de amizade dentro do Governo. 

Vozes como de Leonardo Nunes da Cunha, Ruben Figueiró, Marisa Serrano, Eurídio Ben Hur (egresso do PT), Ricardo Senna, Eduardo Riedel etc, etc, encolheram-se diante da brutalidade política dirigida por capitães do mato que hoje dominam o partido. 

Reinaldo e Márcio Monteiro, mesmerizados pelas ilusões do poder, perderam o contato com a realidade e acreditam na política provinciana dos pequenos acertos, das fofoquinhas das rodas de tereré, do desprezo abissal pelas opiniões diferentes, arrastando, assim, quase todo o partido para a prática do atraso, da ignorância presunçosa e da direita primitiva de traços fascistas. 

O resultado é o que se vê: a sociedade está enviando sinais de que não está gostando do que está vendo. 

Será que a "República de Maracaju" - que, esclareço aqui, não se trata de referência a um lugar do nosso mapa geográfico e sim a um aspecto de nossa cartografia mental - não conseguirá revolver as suas próprias entranhas e se reinventar nos próximos dois anos? 

A maioria dos analistas duvida. 

Eu espero pra ver.