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O cinquentenário de Mato Grosso do Sul


Sou um cara esperto. Há 4 anos escrevi um artigo na data comemorativa do aniversário de Mato Grosso do Sul que poderei, todos os anos seguintes, republicá-lo sem me dar ao trabalho de pensar sobre o assunto.

A preguiça mental é um elemento que vive na essência de todo processo criativo. Hoje, na comemoração dos 39 anos da criação do Estado, repito a dose. E com certeza farei o mesmo nos anos seguintes. Vamos lá:

"Este ano o Mato Grosso do Sul comemora 35 anos de existência. Daqui a 15 anos fecharemos a data simbólica do cinquentenário. Meio século de existência não é pouca coisa. Essa efeméride, com os elementos mágicos que representa, pode começar a mexer com a nossa imaginação de várias maneiras. 
Nos acostumamos a olhar a história como uma viagem despedaçada rumo ao passado. Podemos também fazer o caminho inverso: inventando desde já o futuro. Muita gente pode pensar que falar sobre os 50 anos de Mato Grosso do Sul em 2012 é muita precipitação. Não é. 

No Brasil tudo demora a acontecer. Há muita burocracia, muitos trâmites, muitas negociações setoriais, ou seja, temos a mania da improvisação e sempre fazemos as coisas na última hora. Claro, isso pode ser mudado quando começamos a discutir as coisas com tempo, mesmo que haja altos e baixos. O processo somos nós que criamos.

Acho que os poderes públicos, os setores culturais, as universidades, entidades de classe, os segmentos interessados da sociedade, enfim, a massa pensante do Estado devia começar a debater nosso cinquentenário desde já, mesmo que de forma diletante. 

Transformar o tempo em marco histórico de busca de afirmação de nossa identidade poderá nos levar a elaborar uma síntese emblemática do que somos perante o País. O evento poderá ser definidor do papel que ocuparemos na história do Brasil no próximo século. 

Em 2014 haverá eleição para governador do Estado. Não seria interessante começar a comprometer possíveis candidatos com projetos de longo prazo? No início desse debate poderá haver apenas tempestade de ideias e isso pode ser feito a custo quase zero. Depois, conforme tudo for engrenando, podemos começar a materializar os projetos e as metas a serem alcançadas. Nesse caso, o pensamento coletivo poderá ser um aliado poderoso.

O prazo de 15 anos é mais do que suficiente para se criar um acontecimento surpreendente. Pode-se inclusive estabelecer esse referencial para se pensar o Estado em termos macro.  Devemos começar a nos preocupara com elaboração e organização de dados sobre as mais diversas áreas: economia, política, sociologia, educação, saúde, história, antropologia, tecnologia, artes etc., para compreender como nos desenvolvemos nos primeiros 50 anos e qual será a agenda que devemos construir para sermos um Estado especial no amplo e complexo jogo federativo. 

Além disso, devemos estabelecer planos de longo prazo vislumbrando o ano de 2027 nos principais pontos do desenvolvimento humano, abrangendo questões como urbanização, infraestrutura logística, políticas de inclusão social, proteção ambiental e outros pontos convergentes de crescimento.

Devemos também pensar na construção de marcos arquitetônicos que possam traduzir simbolicamente o nosso cinquentenário de forma grandiosa. Temos que parar de pensar pequeno. Temos que superar o ranço e mesquinhez provinciana. Profissionais de várias áreas (artistas, arquitetos, engenheiros, designers) deviam ser reunidos para criar projetos que possam ser deixados para as gerações futuras como herança de nossa simbologia divisionista. Essas coisas fazem a diferença. Seria algo inédito na história do País. 

Sei que alguns podem torcer o nariz para esse tipo de proposta, mas mesmo assim não vou me omitir: o governo devia criar uma comissão de notáveis para cuidar do assunto, criando o selo do cinquentenário para carimbar projetos e iniciativas que confluam em direção a esse projeto de grande envergadura.

Poderia dar incentivos fiscais e estabelecer um fundo financeiro para gerir esse processo. Por exemplo: propostas de pesquisas e estudos visando ser apresentado no ano do cinquentenário ganhariam apoio governamental. Penso que isso é muito mais útil e interessante do que ficar querendo criar um percentual do orçamento para a cultura, que, a meu ver, é algo dissipador. 

Elaborar ao longo do tempo um projeto estruturante que coloque no plano das ideias o significado da criação de nossa unidade federativa, contextualizando elementos díspares em unidades discursivas poderá conferir uma eficácia importante para o debate sobre qual é o papel de Mato Grosso do Sul no cenário nacional. 

Acredito que uma geração deve deixar um legado para a próxima. O que as pessoas que viveram os primeiros 50 anos do Estado deixarão para aquelas que viverão o cinquentenário posterior, quando completaremos o primeiro século de existência? Acho que estas respostas podem mexer com a nossa imaginação. Claro que não estaremos vivos até lá. Mas nossas memórias podem estar. E isso fará sempre uma tremenda diferença".