Quatro dias após as eleições, entro na minha página no Facebook pra ler as postagens sobre o assunto. A coisa ainda está fervilhando. Emoções à flor da pele. Mas não quero comentar aqui as escolhas individuais ou coletivas. Cada um é livre para viver suas utopias do corpo e da mente. Estou mais interessado em falar do comportamento agressivo e doentio de pessoas que mais parecem cães raivosos nas redes sociais.
Percebo nas postagens mais enfurecidas, um tipo de ressentimento por parte das pessoas que encontraram na agressão virtual a políticos uma justificativa para conter as derrotas e frustrações da vida. Detalhe: não há muita gente hoje em dia que saiba ir além do Facebook. E parte do motivo pelo qual todas essas pessoas se tornaram especialistas em difamar é porque não tem poder em nenhum outro lugar.
Explico: o mercado qualificado está encolhendo. Exige mérito. Diferente dos ressentidos, que na ausência de talento para tocar a vida, escolheram trancafiar-se em castelo virtual de covardes para destruir qualquer pessoa bem sucedida. Ali, sozinhos ou em bandos, construíram um púlpito online onde definem quem merece ser destruído no Facebook.
O feedback nesse tipo de conduta é instantâneo. Basta você falar mal de alguém que seu comentário é sempre bem vindo, comentado e compartilhado.
Conheço um sujeito - corporalmente relaxado - que frequenta ambientes religiosos, mas que exerce um papel perverso na rede. O cara passa uma imagem de fervoroso, adora manifestações sentimentais na igreja, chama os fiéis de “irmãos”, declara amor ao próximo, mas na frente de um computador passa por uma metamorfose macabra.
Na linguagem evangélica pode-se dizer que o cara é do mal, mas prefiro a definição secular ou psicológica da coisa, que explica pessoas com esse perfil na rede, motivadas por forte componente de frustração pessoal.
Fecho esse texto com uma opinião emblemática. Há tempos as denominações religiosas deixaram de ser um ambiente restrito e reservado exclusivamente a assuntos morais e espirituais. Primeiro porque tornaram-se um terreno fértil para hipócritas esconderem seu comportamento doentio. Depois, porque o mundo moderno tem uma vocação natural para funcionar em quantidades, o que sempre esvazia as qualidades. É o fim.
*jornalista