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Alexsandro Nogueira: Judeus no descobrimento


Ler “Os Judeus que Construíram o Brasil”, foi como assistir a minissérie “A Muralha”, exibida pela Rede Globo em 2000. Veio à lembrança o espírito aventureiro, corajoso e empreendedor que marcou a passagem dos Hebreus nos primórdios desse País. O roteiro do livro, escrito por Anita Novisky, Daniela Levy e Lina Gorenstein, descreve a participação e o papel decisivo que os imigrantes judeus tiveram na formação do Brasil colônia. 

Personagens emblemáticos como Antônio Raposo Tavares e os Bandeirantes paulistas que dilataram as fronteiras do Brasil, marchando pelos sertões enquanto fugiam da fogueira da Inquisição e da ira de Jesuítas inquisidores. 

No livro, há ainda informações reveladoras sobre a ancestralidade dos padres José de Anchieta e Bartolomeu Gusmão, além dos navegadores Cristóvão Colombo, Fernando de Noronha e Gaspar da Gama, todos descendentes de famílias judias forçadas à conversão, que encontraram no catolicismo uma maneira de esconder suas origens. 

Fontes inéditas para uma nova visão da história que começou quando a classe dos Sefarditas (judeus portugueses) foram expulsos da Península Ibérica, indo encontrar abrigo no norte da Europa: na fria Hamburgo e na mercantilizada Amsterdã. 

A capital holandesa merece um capítulo especial no livro pela tolerância religiosa, recebendo intelectuais, comerciantes e profissionais liberais lusos e hispânicos. 

Posteriormente, os Países Baixos compreenderam os benefícios econômicos que os judeus trariam, proporcionando aos mercadores de Amsterdã ligados à produção de cana de açúcar uma oportunidade de enriquecimento. 

Já o conquistador, Maurício de Nassau percebeu a necessidade de mão de obra qualificada e construiu uma rede de profissionais judeus para auxiliá-lo no projeto de expansão territorial holandês pela América. Nos 24 anos que Nassau esteve no Brasil, artesãos, médicos e intelectuais poliglotas de origem judaica foram determinantes para a governabilidade holandesa no nordeste brasileiro.

Curiosamente a companhia holandesa expulsa do Brasil pelos portugueses, foi a mesma que comprou Nova York dos índios americanos e fundou ali a primeira comunidade judaica da América do Norte. 

O livro conta o martírio de judeus portugueses enviados ao Brasil nas caravelas de Cabral e companhia como cristãos novos, cuja prisão dependia mais de suas fortunas do que de suas heresias. E resgata exemplos como da comunidade baiana que se negou a entregar amigos, colegas ou vizinhos judeus, em uma época que o governador daquela capitania usou força militar para coagir o povo.

Discriminação, racismo e morte. Em mais de 500 anos de Brasil, um capítulo escondido da história brasileira, trancafiado e mantido em sigilo, agora é revelado. Um passado que envergonha a todos e que não se apaga. 

*Jornalista/Campo Grande -MS