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A questão do voto nulo e as eleições em Campo Grande


Parece que foi Stálin o autor da frase de que não se "pode fazer omeletes sem quebrar os ovos". Não sei se foi, mas tem muita gente que atribui a ele, talvez,  não a autoria, mas a ideia.  

O fato foi o seguinte: depois de se apropriar da produção agrícola de países satélites da URSS para fazer um superávit comercial e, com isso, matar milhões de pessoas de fome, sem contar aqueles que mandou fuzilar por não concordarem com tal medida, Stalin fez seus companheiros mais próximos compreenderem que a sobrevivência no poder implica às vezes na completa desumanização das decisões.

Outro que mais ou menos disse a mesma coisa foi Sartre. Ele falou que fazer política é estar disposto a por a mão na merda. 

Corações mais sensíveis, aristocratas do pensamento, ideólogos do bem, todos esses - sempre à esquerda, pelo menos da boca pra fora -, acreditam que fazer escolhas indigestas de acordo com o contrato social que regula nossa vida democrática é pecado.

Tenho visto a nossa "inteligêciia" local pregar o voto nulo ou abstenção na eleição do próximo dia 30. O excesso de pureza dessas almas atormentadas perante a lógica da democracia de massas - tantas vezes criticadas por Nietzsche e Tocqueville - agora pensam e pregam a negação do sistema para não se contaminarem pelas regras impostas pela legitimidade. 

Cada um tem o direito de fazer o que bem entender da vida. Na minha intimidade - esse santuário indevassável por pensamentos e loucuras - posso tomar qualquer atitude. Por exemplo, não sair de casa no dia da eleição, assistir a um filme ou ouvir Bob Dylan, tentando descobrir o que os caras que lhe deram o Nobel de Literatura fumaram no dia da decisão.   

A liberdade democrática carrega na sua essência a vontade do sujeito e a ontologia das coisas pensadas e imaginadas. 

O que me estranha são pessoas que não conformadas com o quadro eleitoral vigente agora decidam partir para a briga querendo transformar decisões individuais em coletivas. 

Claro, essa é a motivação de todo militante político. Quem gosta de fazer de sua causa a dos outros segue aquele velho lema leninista de que não basta convencer o próximo, tem que levá-lo à ação. Só que para fazer isso não basta apenas difundir slogans.Tem que ter argumentos. 

No caso da escolha entre Rose e Marquinhos Trad não basta negar os dois. Não basta simplesmente tapar o nariz empinado e dizer "não vou votar". Não basta apenas externalizar um julgamento de nojinho, numa demonstração angelical de que é "contra tudo isso que aí está". 

Esse é o dilema da eleição em dois turnos. Tivemos 15 candidatos para escolher. A sociedade fez a depuração: nos deixou os dois mais votados para indicarmos à prefeitura. Essa é a regra democrática. Não vale dizer que "não brinco mais" quando o jogo se torna coisa de adultos.

Sempre digo que o primeiro turno nós votamos - ou não votamos, anulamos e apertamos o botão branco - com o coração; e, o segundo, prevalece a razão, seja qual for. 

Pular fora do barco é fácil. É acreditar que se faz omeletes sem quebrar os ovos ou que a política é um jardim perfumado habitado por querubins de Da Vinci.