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O Palocci dos anos 70



Conheci Antônio Palocci à distância no movimento estudantil em São Paulo na década de 70. Digo à distância porque Palocci pertencia ao grupo Libelu (Liberdade e Luta), um gueto do pensamento radical da esquerda maluca, à qual não era possível se aproximar.

Nas assembleias estudantis organizadas contra a ditadura, Palocci chamava a atenção pela altura, pela magreza e pelos cabelões exibidos para formatar discursos risíveis sobre a derrubada da burguesia nacional e implantação do socialismo de base trotskista no Brasil.

Palocci era bom de argumento (apesar da língua presa), mas as ideias do grupo ao qual pertencia eram inaplicáveis em qualquer lugar do planeta.

Lembro-me que a Libelu era formada por uma gente mimada, que usava roupas descoladas, boinas pretas, um lance alternativo que anunciava a chegada de uma nova era no pedaço em que vivíamos. Era exótico e cômico ao mesmo tempo.

A esquerda tradicional queria liberdade política dentro das regras da democracia liberal, mas era um pouco conservadora nos costumes.

A Libelu e a Convergência Socialista propunham quebrar isso com uma pauta mais libertária, uma mistura de Trotski com Marcuse. Eram esses os tempos loucos dos anos 70 e 80.

Suas propostas eram sempre recebidas com ironia, o que talvez tenha aumentado o isolamento político, transformando essas tendências de nossa esquerda numa seita contracultural, em que se pregava sexo livre, liberação da maconha, e uma espécie de liberou geral para assombrar e derrubar os milicos do poder.

Tempos mais tarde, com a democratização do País e a formação de partidos regulares, a Libelu aderiu ao PT, formando uma daquelas microcélulas que orbitam a nave mãe em busca de espaço de poder.

O resto é história.

Palocci fez sua a guinada ao neoconservadorismo, saindo da ultra-esquerda e se transformando, talvez, no mais radical corrupto do petismo.

Impressionante. E,convenhamos, uma trajetória e tanto.

Por isso, sempre acho que por trás de todo radical de esquerda ou de direita, existe um canalha que não ousa dizer seu nome.