"Golpista" foi um apelido que pegou. Parece aquela brincadeira escolar: um dia você chama um colega de "careca".
Ele não gosta. Reage. Todo mundo acha graça.
Toda a vez que o chamam de "careca", ele dá um piti, fica contrariado.
Com o tempo, ele se torna caricato. Pronto: a coisa gruda.
Passam-se 20 anos, você encontra o sujeito, mas não lembra seu nome. Lembra o apelido. Tá incorporado. E ele considera aquilo um gesto de intimidade e carinho.
- E aí, Careca, como vai a família?
Acho que esse lance de "golpista" tem a mesma lógica. Só que no momento o epiteto é pejorativo. Da mesmo forma que "petista".
Ninguém gosta de ser chamado assim. Politicamente, num caso ou noutro, o cara parte para a reação. Daí vem a discussão política. Se deixar, o pau quebra.
Mas quem é chamado de "petista" nem liga; diz que saiu do partido ou que mudou de lado, mas continua sendo de "esquerda".
Daí julga que tem o poder de chamar o outro de "golpísta". Tudo pose.
Ontem o ministro da Cultura, Marcelo Calero, abandonou um festival de cinema em Petrópolis (RJ) após ser chamado de "golpista" por parte da plateia.
O público se dividiu entre gritos e aplausos. Calero ficou furioso. Devia ter tido fair play, feito uma piada, uma tirada inteligente, desqualificado os opositores e indo para o abraço de seus apoiadores.
Defendi e defendo o impeachment de Dilma. Se me chamarem de "golpista" não reajo. Acho graça. Não consigo levar nem a mim mesmo a sério, imagine quem usa esse tipo de artifício para tentar me ofender.
O uso do apelido é uma tática política. Só isso.
Até as emas do Palácio do Alvorada estão mais felizes sem Dilma ocupando aquele espaço criado por Niemeyer para tornar o exercício do poder um fardo insuportável.
Só gente maluca aceita esse tipo de jogo. Quando alguém te chamar de "golpista" faça cara de paisagem. Ou então diga que da boca de um "petista" o apelido não tem valor.
E mude de assunto.
Assim a coisa não cola.