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Doação de Janete para Rose é o maior escândalo eleitoral do momento


A folclórica Pastora Janete Morais (herdeira milionária de Antônio Morais dos Santos), ex-candidata a vice-governadora de Nelsinho Trad nas eleições de 2014, filiada ao PTB do B (que integra a coligação de Marquinhos Trad, do PSD), famosa por suas excentricidades e neófita em política, sem pleitear nenhuma candidatura, está protagonizando o maior escândalo da campanha eleitoral de Campo Grande até o momento. 

Com simples gesto – uma doação de R$ 403 mil à campanha de Rose Modesto (PSDB), representando 43% de todo recursos declarado da candidata – dona Janete pisou em todos os tomates disponíveis a serem pisados, provocando indignação nos partidários, na imprensa e na sociedade de modo geral. 

Ela de uma só vez cometeu vários erros: infidelidade partidária – não a estatutária, mas a conceitual – desqualificou a candidatura do aliado, abriu polêmica indevida sobre as reais intenções do ato, criou espaço para questionamentos de todas as ordens – morais, éticas e sociais – e ainda causou assombro com as desculpas esfarrapadas sobre as razões de sua generosidade. 

“Eu não sou candidata e se fosse claro que não faria isso. A Rose veio até mim, conversou com toda a minha família e pediu ajuda. Nós decidimos por ajudá-la porque achamos que a única forma de tirar Campo Grande da situação ruim em que está é com o apoio do governador e, sendo assim, quem ele está apoiando é a Rose”, afirmou singelamente ao Midiamax, esquecendo de um detalhe relevante: “Janete é proprietária de um imóvel alugado para o a Sedhast (Secretaria de Estado de Direitos Humanos, Assistência Social e Trabalho), que em 2015 ficou cinco meses fechado, mesmo com o governo estadual desembolsando R$ 10,5 mil por mês de aluguel. À época da locação, a pasta era comandada por Rose. Atualmente o imóvel abriga o programa Vale Renda”, conforme reportagem do site. 

O dinheiro do aluguel pode ser troco para Janete, mas ele funda uma relação de interesse entre o público e o privado, algo que pode ser questionado judicialmente.
O deputado estadual e candidato a prefeito de Campo Grande, Marquinhos Trad (PSD), considerou tal “doação” uma coisa surreal, ressaltando que “ o dinheiro é dela e portanto ela faz o que bem entender com o patrimônio da família”. 

“Lamento – ele ressaltou - , apenas, que como política, a pastora esteja financiando a coligação adversária, o que é um contrassenso”, disse o candidato.
Marquinhos foi elegante no limite do possível. 

Só que o argumento – “o dinheiro é dela e ela faz o que quiser” – não se sustenta. A não ser que estivéssemos na Grécia antiga, nos tempos de Aristóteles, período em que ele discorre sobre a plutocracia (governo dos ricos) na democracia de então. 

Lembro a todos que estamos no século XXI.

Se dona Janete usasse esses recursos para apoiar projetos culturais, obras beneméritas, igrejas de sua preferência, ou então fazer uma festa particular, uma viagem à Europa, sei lá, qualquer coisa no âmbito exclusivamente privado, tudo bem, nada a reparar. “O dinheiro é dela e ela faz o que bem entender”, certo?

Mesmo em princípio não incorrendo em nenhuma ilegalidade – algo que é preciso ser questionado, a meu ver - ela simplesmente incorreu em grave falha moral por ter tornado a disputa pela prefeitura (a cidade é de todos, lembrem-se, e não apenas de poucos votantes) num processo desigual, porque fez prevalecer a vontade de uma única família sobre o que deveria ser objeto de escolha geral da sociedade. 

Não sei se o leitor me entende, mas tem algo de esquisito nessa história.
Pergunto: o que deveria pensar, a partir de agora, um cidadão que é convocado a fazer uma doação para o Hospital de Diagnóstico do Câncer Antônio Morais? 

Ora, se a pastora tem recursos para brincar de política – algo que envolve interesses de quase 1 milhão de habitantes – ela deve os ter para bancar outras atividades – beneficentes ou culturais – daqui pra frente. Não fazendo isso, bem, é melhor nem comentar...

Dizem que Janete é uma senhora “distraída e confusa” – que não rasga dinheiro -, mas ela deve ter imaginado que pessoas que mantém qualquer relação contratual com o setor público devem ser mais contida e discreta. Existe uma coisa que se chama “conflito de interesses”, nascida lá atrás quando denunciaram uns tais “vendilhões do templo”.

Se ela não entender o que está acontecendo, terá que suportar as hostilidade e desconfianças sobre sua honestidade, recebendo com naturalidade acusações de que a doação a Rose foi apenas “mais um negócio” que ela e sua família mantém para se tornarem apenas mais ricas.

Enfim, um escândalo desnecessário para alguém que prega que entre homens e mulheres de boa vontade deva haver solidariedade cristã.