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Campanha para vereador é quase carnificina


Antes que me condenem pelo exagero, aviso aos leitores que o título acima é uma maneira meio canhestra de chamar a atenção para o assunto que aqui vai: o atual sistema eleitoral brasileiro não ajuda o eleitor nem os candidatos. Muito menos os partidos. 

Vamos pegar o caso de Campo Grande, que está mais próximo, mas que pode ser estendido para qualquer município brasileiro. 

Temos atualmente 648 candidatos para a Câmara de Vereadores, disputando um colégio eleitoral de 595 mil eleitores. 

Dada as alianças partidárias e as contas da proporcionalidade cada candidato imaginem os senhores quantos votos serão necessários para que as 29 cadeiras sejam preenchidas. Os números são variáveis. 

O nosso sistema proporcional provoca o seguinte fenômeno: os candidatos são verdadeiros e os partidos são de fachada. Não há exceções, embora devamos considerar fatores diferenciais como os recursos dos fundos partidários ( só que isso é outra história...). 

Mesmo que se tente criar alguma uniformidade nas campanhas - cores, números, cabeça de chapa, propaganda etc. - cada candidato luta por si. 

Pior: ele tem que lutar contra inclusive  candidatos de seu próprio partido. Não existem aliados, só inimigos.

Mais grave: se o cabeça de chapa sinaliza que não vai decolar, ele simplesmente é abandonado em favor de outras candidaturas adversárias. A fidelidade é zero e traição é tudo.

Nesse aspecto, a ideia de partido como elemento de coesão programática e ideológica - um truísmo, por assim dizer, mas vá lá - deixa de existir e é dissolvido nas espessas camadas das contradições e interesses particulares.

Funda-se, assim, uma guerra de individualidades, formando um verdadeiro mar de intrigas, de divisões interpessoais, manobras sujas, destruindo as bases do que deveria ser idealmente uma agremiação partidária. 

Os candidatos majoritários e os detentores do poder político - deputados, senadores, governadores - também ingressam nessa luta formando seus grupos particulares, dando respaldo a seus escolhidos, num processo que gera ruído, ciumeira e ressentimento, fragmentando ainda mais as bases políticas, estimulando a criação, dentro dos próprios partidos, de subgrupos divergentes que perduram - e às vezes se fortalecem - inclusive fora dos períodos eleitorais. 

Não se pode dizer que esse é um ambiente saudável. As lutas internas travadas nos períodos pré, durante e pós eleitorais contribuem para a formação do modelo de loteamento do poder aos vencidos e vencedores, transformando a máquina pública num espaço ineficiente, anti-meritocrático e fortemente corrupto. 

Essa é a questão. O sistema é podre, as eleições são a extensão dessa podridão e, consequentemente, os poderes investidos pelos vencedores desse processo exalam o famoso cheiro de ralo do qual o Brasil não suporta mais. 

Por isso é importante a reforma política. 

Há várias propostas. Todas com prós e contras. Mas não vamos escapar, mais cedo ou mais tarde, desse debate: é imprescindível que se discuta eleições desvinculadas da questão da proporcionalidade, voto distrital, voto em lista, cláusulas de barreira etc., enfim, que se pactue um modelo em que o partido prepondere sobre os indivíduos e a luta política seja essencialmente republicana. 

Fora disso, continuará o caos.