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Pedro Mattar: Humanos diversos


Barata

O hotel tinha estilo, categoria acima do comum, luxo que não combinava com a barata que saiu desesperada quando abri minha mala. Foram onze horas de voo, mesmo para uma barata significava desconforto. Fiquei olhando enquanto ela decidia o rumo. Era com certeza uma barata brasileira, foi lá que fechei a mala. Agora estávamos na Espanha, e ela, barata, nem imaginava onde seria esse País. Andava determinada para um lado, depois voltava arrependida. Parecia querer distância da mala, isso era evidente.

Hesitação compreensível, pensei. Meu lado cruel decidiu não matá-la. Quis gozar aquele instante, me diverti com seu choque: barata tropical, acostumada a alimentos deteriorados pelo calor e à outra língua. Agora entrava no submundo rasteiro de um universo novo. Novas frestas, novos encanamentos, sujeiras estranhas e restos de um cardápio desconhecido, nomes estranhos: paella, pucheros e cojones de toro. Vamos ver no que dá...ela nem sabe a língua.




PENSATA

ESTÉTICA, SÓ PRA CITAR, DEPENDE DE QUEM OLHA, NÃO TEM NENHUMA RELAÇÃO COM O OBJETO OLHADO.