Dilma Rousseff fez um discurso no
senado de 45 minutos e respondeu perguntas de senadores. Para muitos, estamos
vivendo uma apoteose histórica. Pelo que vi até agora, estamos transitando
entre o drama farsesco e a comédia cÃnica.
Mesmo Dilma reiterando a tese do “golpe
parlamentar”, achei o evento mal calibrado. Um senador usa 5 minutos cravados
para fazer pergunta; e ela leva o tempo que for necessário para respondê-la,
sem que haja contradita, enfiando goela abaixo de quem está assistindo o que ela
tem na cabeça.
A verdade não importa. Tudo é
encenação.
E olha que Dilma não consegue
disfarçar muito: ela não mudou nada, mesmo com esse longo processo, algo que
levaria qualquer ser humano a fazer reflexões e autocrÃticas, sugerindo algum
acerto com o passado.
Ela se mantém firme nos mesmo
equÃvocos, se diz inocente, deixa claro que se o impeachment for aprovado,
levará o caso ao Supremo Tribunal Federal, arrastando consigo um perÃodo de
insegurança jurÃdica, como que dizendo, à semelhança de Zagalo num famoso
depoimento. “vocês vão ter que me engolir”.
Compreende-se: ela não quer ser
condenada pela história. Apega-se a nesgas e filigranas de ordem jurÃdica e
contábil, inventa teses loucas, elabora raciocÃnios fantasiosos, pois pretende
no futuro deixar marcado na consciência coletiva a idéia de vitima de elites
cruéis e desalmadas.
É o seu direito. A democracia
sustenta-se nos elementos contraditórios da realidade. Dilma faz seu jogo
sabendo de antemão como ele está sendo e como será jogado nos próximos dias.
Todos temos direito ao nosso
teatro particular. E todos aqueles que acreditam na sua defesa tem o direito de
segui-la como numa jornada de fé e sacrifÃcio.
“Jamais haverá justiça com a
minha condenação”, ela afirmou. “A democracia está sendo julgado comigo”,
reiterou.
DifÃcil avaliar alguém que nutre
tal grau de megalomania; complicado julgar alguém com um narcisismo tão ferido.
Mesmo assim, Dilma cometeu um
tremendo erro – fatal, a meu ver – quando, na sua narrativa heroica, fundada na
ideia da legitimidade de 54 milhões de votos, esqueceu de mencionar ( numa
linha que fosse) que seu governo começou a se esboroar quando a soberania
popular indicou o caminho a ser tomado com as famosas jornadas de junho de
2013.
O esquecimento – proposital ou
não – mostra que todos os seus argumentos pecam pelo maniqueÃsmo fantasioso de
não endossar o que vem das ruas, a não ser que estivesse a seu favor.
A recente história do Brasil
ainda não começou a ser contada. O projeto de Dilma, Lula e PT nesse momento é
criar uma obra cinematográfica que não somente preserve suas respectivas biografias,
como prepare uma espécie de lavagem cerebral para as gerações vindouras.
Vão conseguir? O tempo dirá.