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Dilma esqueceu as jornadas de junho de 2013



Dilma Rousseff fez um discurso no senado de 45 minutos e respondeu perguntas de senadores. Para muitos, estamos vivendo uma apoteose histórica. Pelo que vi até agora, estamos transitando entre o drama farsesco e a comédia cínica.

Mesmo Dilma reiterando a tese do “golpe parlamentar”, achei o evento mal calibrado. Um senador usa 5 minutos cravados para fazer pergunta; e ela leva o tempo que for necessário para respondê-la, sem que haja contradita, enfiando goela abaixo de quem está assistindo o que ela tem na cabeça.

A verdade não importa. Tudo é encenação.

E olha que Dilma não consegue disfarçar muito: ela não mudou nada, mesmo com esse longo processo, algo que levaria qualquer ser humano a fazer reflexões e autocríticas, sugerindo algum acerto com o passado.

Ela se mantém firme nos mesmo equívocos, se diz inocente, deixa claro que se o impeachment for aprovado, levará o caso ao Supremo Tribunal Federal, arrastando consigo um período de insegurança jurídica, como que dizendo, à semelhança de Zagalo num famoso depoimento. “vocês vão ter que me engolir”.

Compreende-se: ela não quer ser condenada pela história. Apega-se a nesgas e filigranas de ordem jurídica e contábil, inventa teses loucas, elabora raciocínios fantasiosos, pois pretende no futuro deixar marcado na consciência coletiva a idéia de vitima de elites cruéis e desalmadas.

É o seu direito. A democracia sustenta-se nos elementos contraditórios da realidade. Dilma faz seu jogo sabendo de antemão como ele está sendo e como será jogado nos próximos dias.

Todos temos direito ao nosso teatro particular. E todos aqueles que acreditam na sua defesa tem o direito de segui-la como numa jornada de fé e sacrifício.

“Jamais haverá justiça com a minha condenação”, ela afirmou. “A democracia está sendo julgado comigo”, reiterou.

Difícil avaliar alguém que nutre tal grau de megalomania; complicado julgar alguém com um narcisismo tão ferido.

Mesmo assim, Dilma cometeu um tremendo erro – fatal, a meu ver – quando, na sua narrativa heroica, fundada na ideia da legitimidade de 54 milhões de votos, esqueceu de mencionar ( numa linha que fosse) que seu governo começou a se esboroar quando a soberania popular indicou o caminho a ser tomado com as famosas jornadas de junho de 2013.

O esquecimento – proposital ou não – mostra que todos os seus argumentos pecam pelo maniqueísmo fantasioso de não endossar o que vem das ruas, a não ser que estivesse a seu favor.

A recente história do Brasil ainda não começou a ser contada. O projeto de Dilma, Lula e PT nesse momento é criar uma obra cinematográfica que não somente preserve suas respectivas biografias, como prepare uma espécie de lavagem cerebral para as gerações vindouras.
Vão conseguir? O tempo dirá.