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Alexsandro Nogueira: a fábula


A força mais presente nas Olimpíadas do Rio são as histórias motivacionais que realçam a biografia dos atletas. As emissoras capricham no enredo. Colocam músicas de fundo, narrações carregadas de dramaticidade e trechos da vida dos personagens ambientadas em regiões insalubres.

A maioria das narrativas é sobreposta em imagens que apresentam um menino de pernas longas, descalço, pobre, que praticava sua modalidade em um palminho de terra esturricada.

Em seguida, as cenas se contrapõem com um futuro de vitórias, glórias e conquistas. O público se emociona. Não há como conter os sentimentos e o amor à pátria. Alguns vão às lágrimas.

Pronto, o telespectador estará no clímax da competição.  Na cerimônia de abertura, o Brasil de Lula e Dilma assiste Anitta demonstrar o estágio cultural do brasileiro. Da tribuna, um Temer constrangido acena para um público hostil a políticos. O povo devolve com vaias e grita: “Moro”.

As equipes perfilam o campo e saúdam a platéia. Neymar manda um tchauzinho simpático para as câmeras. Começa o jogo, bola rolando. Pela empolgação de Galvão Bueno até parece que vamos devolver os 7x1 para Alemanha.

No show do intervalo, comentaristas de várias modalidades se reúnem e traçam um panorama de como será a participação brasileira nos jogos. Os mais entusiastas acreditam que estaremos no pódio discretamente em posições inferiores a participação nos jogos de Londres (2012).

Pessimistas colocam a culpa na falta de gestão dos dirigentes esportivos. Por 15 dias o público se esquece de política, das eleições municipais que se avizinham e cola o rosto na televisão torcendo por medalhas.

Em dois ou três dias de competição aparece o primeiro herói nacional. O povo comemora. Em seguida assistimos o atleta beijar a medalha enquanto lágrimas correm pelo rosto.

No bate-papo esportivo da noite, alguém ressuscita um antigo slogan: “O Brasil é o país da superação. Essa medalha veio para ajudar a resgatar a estima do nosso povo tão sofrido”.
Os colegas de bancada se emocionam e lembram outros exemplos.

Os dias vão seguindo e o quadro de medalhas nos mostra mais do mesmo: os atletas brasileiros figuram sempre na parte baixa do ranking. Superados nas provas por países que não aparecem no mapa ou por nações que não tem tradição esportiva.

Fim dos jogos. Galvão lamenta a falta de medalhas da delegação brasileira e aponta os culpados. Porém, antes de encerrar afirma otimista: “Daqui a quatro anos, as coisas vão melhorar” É Brasil!

* jornalista