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Todos contra Moro


A maioria dos criminalistas detesta Moro.

Eles alegam que o Juiz de Curitiba não respeita o devido processo legal quando determina a prisão de empresários e políticos por suspeita de corrupção. Dizem que prender para coagir psicologicamente o acusado a aceitar os termos de delação premiada remete a uma prática medieval.

A argumentação é razoável quando o mundo é visto pela cabeça de advogados criminais. Para muitos, atos passíveis de encarceramento só podem ocorrer quando eles atentem contra a integridade física de outros indivíduos.

Assassinatos, estupros, seqüestros, atentados etc, etc, etc, aí sim, permite-se que haja discussões sobre a validade ou não da prisão do criminoso. E olhe lá, se as circunstâncias não criarem a chamada dúvida razoável, que possibilita a absolvição, redução ou abrandamento de pena.

A corrupção é diferente. Hipoteticamente, ninguém morre porque um magano esperto meteu as mãos nos cofres públicos e embolsou milhões ou bilhões de dólares.

A maior pena que poderá ser-lhe imposta é fazer com que o sujeito devolva o dinheiro roubado.

Prendê-lo, francamente, é um acinte. Deixá-lo pobre, isso sim é justiça.

A corrente jurídica de Curitiba, certamente, não pensa assim. O Coordenador da Força Tarefa da Operação Lava Jato, o Procurador da República, Deltan Dallagnol, vem insistindo na seguinte tese: “a corrupção é uma assassina sorrateira, invisível e de massa. Se disfarça em buracos nas estradas, remédios vencidos, crimes de rua e pobreza”.

Bem, essa é outra visão de mundo. Ela é compartilhada por Sérgio Moro. Esse conceito, digamos, judicativo, tem prevalecido no atual momento, contrariamente à tradição brasileira, na qual só vai para a cadeia preto, pobre e puta.

Os advogados criminalistas justificam, não sem total razão, que o judiciário não pode se render aos desejos de vingança da sociedade, que grita nas ruas por justiça sem compreender o cipoal de regras que regem o chamado devido processo legal.

Mas Moro não pensa assim. A reportagem publicada na edição de hoje do jornal O Estado de São Paulo, do repórter Fausto Macedo, é esclarecedora nesse sentido. E parece que no momento o establishment concorda com o juiz.

Os criminalistas vão ter que se adaptar aos novos raios de sol que estão nascendo no horizonte.

Veja aqui a entrevista com o Juiz Sérgio Moro.