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O jornalismo é estranho, mas temos que conviver com ele


Sou insone. Leio jornais de madrugada. Primeiro, os locais; depois, os nacionais. E, finalmente, pra pegar no sono, alguns internacionais. 

Quase todos falam a mesma coisa, as notícias são unívocas. 

Mas de vez em quando tenho algumas surpresas. Na página 02 do Correio do Estado de hoje (que a maioria dos leitores lerá logo cedinho) tem um artigo do jornalista Antônio João Hugo Rodrigues (“Sócrates e as três peneiras”) que está um primor. Merece ser lido.

Ele passa uma carraspana no Ministério Público e chama a atenção da toxicidade da Operação Coffe Break na sua natural função de espargir o veneno da fofoca com as notáveis maledicências sem provas. 

AJ critica com toda a razão essa onda do diz-que-diz que contaminou o MP. 

Jovens promotores sonham em se tornar celebridades, lutando por miligramas de holofotes num mundo burocrático e sombrio, repleto de formalidades, algo que deve mexer com a testosterona de qualquer um.

No meio do texto, ensaia uma autocrítica. Gosto disso. Sim, nós jornalistas somos terríveis porque damos vazão a esse mundo de frivolidades, condenando por antecipação personagens de alta respeitabilidade nossa política. 

Fico feliz com o texto. Bem escrito, bem pensado, encerra uma lição importante sobre a divulgação da verdade baseada em Sócrates, o filósofo que tomou cicuta porque negou ser incoerente quando foi acusado de desvirtuar a juventude na antiga Atenas.

Assim, vou pulando as páginas, lendo distraidamente o noticiário já sabido, lido e relido nos sites durante o dia. 

Enfim, chego à Coluna Diálogo, da jornalista Ester Figueiredo. Boto o olho na nota da “Felpuda”. Incrível: o texto de poucas linhas desmente por completo o grandioso artigo de A.J. 

Uma pena. Achei que tudo era verdade. Socraticamente falando.