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Denilson Pinto: Desabafo


Nos meus quase 30 anos de nos de jornalismo, desde o início, antes mesmo de concluir o curso de Jornalismo na Universidade Estadual de Ponta Grossa, no início da década de 90, aprendi a ter cuidado muito grande com as informações coletadas, primando pela verdade e, ao mesmo tempo, se preocupado se não podia estar acabando com a vida de uma pessoa, caso o teor do que tinha sido coletado não tivesse embasamento suficiente para expor uma determinada acusação.

Passados quase 20 anos, ao participar dos primeiros encontros da Abraji, em Londrina, tive oportunidade de assistir palestras muito interessantes. Naquela oportunidade, o então Procurador Pedro Taques, hoje governador de Mato Grosso, falou uma coisa que nunca mais esqueci.

“O jornalista, enquanto repórter, deve agir como o Ministério Público, coletar o máximo de informações possíveis para oferecer denúncia contra alguém. Já na hora de redigir sua reportagem, os papéis se invertem, deve agir como o juiz, pois dependendo do que vai escrever, ele tem que ter consciência da repercussão do noticiário da vida de alguém”, dizia o procurador, que inclusive foi uma das minhas principais fontes envolvendo o Caso Arcanjo.

Durante toda a minha vida, deparei com vários dossiês chegando nas minhas mãos, mas muitos sequer transformaram-se em notícia, justamente por terem informações frágeis. Já no Correio do Estado, onde trabalhei quase oito anos como editor de Polícia, também recebia inúmeras ligações de pessoas querendo  fazer acusações graves contra certas pessoas, movidas simplesmente por ódio incontrolável.

Feito essas considerações, gostaria de deixar claro aqui meu REPÚDIO a certas informações disponibilizadas pelo Gaeco em seu relatório, que em nada acrescentaram no embasamento da denúncia e serviram apenas para invadir a privacidade dos envolvidos na acusação da Operação Coffe Break.

Esse episódio recente, envolvendo conversa de vereadores num grupo de watts, fazendo gracinhas com relação indicação do ex-vereador Valdir Gomes, para cargo da Semaur, é um exemplo claro disso que estou falando.

O fato divulgado no relatório e disponibilizado para a imprensa serviu unicamente para constranger todos os envolvidos na conversa, sem trazer elementos novos ao processo em si.

O que falaram do vereador realmente demonstra um tom de preconceito inadmissível, mas temos que entender que não foi numa conversa pública. Quem tornou pública foi justamente o Ministério Público, que deveria zelar pela privacidade e intimidade das pessoas. 

E agora, além de tudo, em vez de discussão técnica, o assunto está sendo explorado politicamente por A ou B. Eu, sinceramente, se fosse um dos envolvidos na conversa, entraria com um processo de dano moral contra o Estado, por ter sido vítima de invasão de privacidade, pois se até mesmo escutas, devidamente autorizadas pela Justiça, muitas vezes são desconsideradas e mantidas em sigilo para não ferir a honra dos envolvidos, que dirá conversas de watts, onde se fala tanta porcaria.

Deixo claro que apoio sim os trabalhos do Ministério Público, em especial ao trabalho do Gaeco, que deve continuar agindo com todo o poder inquisitivo que lhe dá direito para coibir os atos de corrupção envolvendo o Poder Público.

Acho lamentável vendo essas várias situações aqui no Estado, não só relativos a esse caso, como em outros, como também na esfera nacional:promotores e procuradores e até mesmo juízes, valendo-se justamente deste Poder Discricionário, estejam exagerando na dose, e em vez de fortalecer a função de agentes públicos estejam se transformando simplesmente em agentes políticos.

Jornalista