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Convenções partidárias


Considero convenções partidárias uma versão piorada de programas de auditório. Não quero ofender os produtores e apresentadores desse tipo de entretenimento, mas quando partidos políticos se reúnem para referendar candidaturas eles atuam no mesmo parâmetro para transformar esses eventos em algo que possa encantar as massas, como num show de variedades.

Digo isso por experiência própria. Já participei de mais de uma centena de convenções. Se existir recursos, aparato midiático, profissionais contratados e gente facilmente coagida a figurar como participante ativo, é possível colocar um macaco no centro do palco e fazer com que seus grunhidos se pareçam com discurso, suas imagens o transforme em alguém respeitável, fazendo o público rejubilar-se com aplausos, gritos e uivos.

Se não houver dinheiro, mesmo assim é possível que se faça alguma coisa, sobretudo no caso de pequenos partidos políticos: basta reunir dez pessoas agitando bandeiras, um candidato com meia dúzia de papagaios de piratas, imagens produzidas em planos fechados, dois ou três jornalistas criativos para produzir releases fantasiosos - e pronto: tá lá o cara falando que vai vencer as eleições.

Vejam as convenções dos partidos e Republicano e Democrata nos Estados Unidos. São eventos altamente profissionais, que transformam a escolha de candidaturas num acontecimento de massa, misturando o espetáculo do poder com a exibição de celebridades, num processo que faz da democracia uma vertente do show business.

Agrego aqui um breve reparo sobre as convenções aparentemente eletrizantes nos EUA: lá o voto não é obrigatório, o que leva os partidos a potencializarem o evento para fazer o eleitor ir às urnas pela emoção.

Outro fator particularmente importante: nada vitaliza mais a democracia quando a mídia estimula o medo apontando um candidato (Trump) que pode ameaçá-la.

As convenções municipais por aqui são mais modestas, mesmo as realizadas ontem em Campo Grande, porque padecem de dinheiro grosso.

A convenção do PSDB, que aparentou shows do PT dos velhos tempos, com todos os cacoetes e esquemas submersos soçobrando pelas beiradas, não conseguiu eletrizar eleitores, transformando-se, afinal, apenas num templo de conversão para convertidos.

Enfim, acabou servindo para o autoengano do tucanato (além de massagens no ego já carente do governador Azambuja), visto que, sinceramente, nunca vi tantas críticas nas redes sociais contra uma candidatura em fase de lançamento como pude constatar em relação à ex-governadora Rose Modesto.

(Abro um parêntese: não quero citar muito Rose porque pode parecer implicância pessoal, mas prometo que essa semana escrevo um artigo explicando a minha relação tumultuosa com o PSDB).

Claro que os partidos fazem suas festas particulares para gravar cenas para os programas eleitorais gratuitos. O público entra como figurante. Tanto faz a quantidade de gente porque, como disse, é possível mostrar uma "multidão" de dez, cem ou mil pessoas, graças aos efeitos especiais das mídias eletrônicas.

O único problema dos candidatos é atrair eleitores para as urnas este ano. Mesmo que o voto seja obrigatório tem muita gente em dúvida se vale a pena votar com esse quadro local de candidatos muito parecidos entre si. Trocar Bernal por Rose, por exemplo, é o mesmo que transformar seis em meia dúzia. O mesmo pode se dizer em relação aos demais.

Não temos o "inimigo" nem o "candidato" fundamental". Infelizmente. A cidade está perdida de qualquer jeito. Ninguém que se apresentou até o momento poderá tirá-la do buraco.

E ontem Rose disse que fará na prefeitura o que Reinaldo está realizando no Governo do Estado: isso é quase uma confissão de culpa.