A revista Piauí, edição de junho, traz reportagem de 20 páginas, assinada pela repórter Malu Gaspar, com chamada de capa, com o ex-senador Delcídio Amaral. Quem acompanhou sua história recente não encontrará ali grandes novidades. Durante a entrevista concedida por Delcídio no apartamento do irmão, em São Paulo, no dia da votação do impeachment de Dilma na Câmara dos Deputados, registra-se que ele consumiu 7 doses de uísque e dois charutos.
Tirando o fato de que a reportagem dá uma boa revisada cronológica em todo o assunto, não há detalhe nem revelações que os eleitores atentos já não saibam. Mesmo assim, está tudo ali: a angústia de ser preso, os chiliques de Maika, as pressões da PF, dos Procuradores do Ministério Público e a revelação – óbvia - do mundo mesquinho e hipócrita que habita Brasília.
Há também frases curiosas. Quando os senadores decidiram manter sua prisão em flagrante, Delcídio afirmou: “você não imagina a decepção que eu tive. Arrumei dinheiro, nomeação, fiz favores para dois terços do senado. E de repente nego estava ali me xingando. Foi Duro”.
Outra declaração mais adiante: “eu passei 61 anos andando sobre as águas. Eu me sentia muito inteligente. Era um cara vivido, falo quatro idiomas, conhecia o mundo inteiro. E eu fui ficando cada vez mais poderoso, entendeu? E porra, uma cochilada com um moleque (Bernardo Cerveró) e eu me fodi.”
Delcídio também conta que foi espionado pelo PT. Achou dois microfones escondidos no apartamento do hotel em que vivia em Brasília. “Eram eles, com certeza. Agora mesmo estão loucos para me pegar. Não conseguem. Porque não sou nenhum santo, mas dinheiro para a política eu acertava direto com as empresas. Estão achando que eu precisava nomear diretor disso e daquilo para conseguir dinheiro para a política ?Não! Eu conversava com o Marcelo (Odebrecht), com o Emílio (Odebrecht), com o Vitor Hallack na Camargo (Corrêa)....Esses caras eu ajudei a vida inteira”.
A reviravolta de Delcídio começou mesmo quando resolveu atender Lula para proteger Bumlai. Aí foi que a coisa pegou. Seu mundo caiu. Mas quem quiser saber detalhes terá que ler a reportagem. No final, a conclusão é inevitável: um bando de otários se achando os personagens mais espertos da história. Só tinha que dar merda.
E Delcídio deixa uma frase final, de cunho filosófico: “a política é a única atividade em que o cara ressuscita mais de uma vez”. Será?