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O chefe do chefe



O eleitorado sul-mato-grossense elegeu Reinaldo Azambuja para um mandato de quatro anos sem saber que o verdadeiro “comandante” do Estado seria um personagem que nunca disputou nenhuma eleição nem recebeu um único voto.
O governador, nesse caso, seria apenas um pau-mandado. O eleitor teria sido enganado. Votou num, mas quem manda é outro. Acredita que o chefe é um, mas o capo é outro. Qual o nome do “outro”? Sérgio de Paula, chefe da Casa Civil, ex-bancário, ex-secretário de fazenda de Dourados, ex-diretor da Assomasul.

Claro, todas as afirmações feitas acima são falsas. Lidas assim, apressadamente, trata-se de exagero, mentira, fofoca e intrigas paroquiais de poder. Informações que não merecem crédito.  Quem conhece a intimidade do Governo sabe que Azambuja tem liderança sólida para não ser uma espécie de “Rainha da Inglaterra”.
A questão é de outra ordem. A grande maioria dos interlocutores da governadoria – empresários, parlamentares, funcionários públicos, lideranças sindicais, secretários de governamentais, jornalistas, publicitários, representantes de outros Poderes, militantes e dirigentes partidários – são explícitos na mesma impressão: “quem manda no Governo é o Sérgio; o resto não apita nada”.
Não resisto e sempre pergunto depois dessa afirmativa: e o governador manda alguma coisa?. Resposta: “ele faz o que o Sérgio manda”.
Considero esse “impressionismo” um problema porque isso desmente uma lógica hierárquica de poder. Realmente, o governador Azambuja é uma pessoa retraída, discreta, parecendo às vezes um sujeito inseguro, dúbio e incomodado com a responsabilidade política do cargo que ora ocupa.

Talvez seja sua origem mineira. Ele evita “aparecer por aparecer”, tomar decisões com certo desassombro, e, no fim das contas, parece gostar mais dos bastidores do que do centro do palco. Trata-se de hábito provinciano arraigado, de quem prefere lidar com miudezas típicas da velha Maracaju – as pequenas vinganças familiares, as fofoquinhas nas rodinhas de tererés etc. - que acabam fomentando e moldando a chamada “grande política”.

Já Sérgio de Paula é pavão, gosta de mandar, de mostrar que joga bruto, de falar pelos cotovelos, de mostrar que tem o governo enfeixado em suas mãos, ou seja, de fazer o jogo das aparências, estimulando a sensação de que ele ocupa um espaço no qual o verdadeiro chefe fica em segundo plano, talvez porque não tenha vocação ou predisposição para exercer a plenitude de seus poderes.

Diante desses dois temperamentos, Sérgio se sobressai como operador pragmático, demonstrando um mandonismo que provoca muitos temores e nenhum respeito. É a vida.
O governador ainda parece que ainda não ter compreendido aquela famosa frase da mulher de César: não basta ser, é preciso demonstrar. Ele vem tentando, mas tá difícil.
A história política de Mato Grosso do Sul registrou apenas um momento em que o Chefe da Casa Civil mostrava que mandava mais do que o governador: foi depois da queda de Harry Amorin, com a posse de Marcelo Miranda. O conselheiro João Leite Schimidt assumiu a secretaria de Governo e não escondia sua influência determinante nos rumos de um governo que durou pouco.

Era outro pavão, mas de outra estirpe: inteligente, culto, refinado e um pouco megalomaníaco.

Claro, vivíamos o período ditatorial e o povo era apenas um detalhe. Depois disso, nos sucessivos governos, não havia dúvida sobre quem era o mandatário.

No governo do PSDB, o Chefe da Casa Civil volta a ter um protagonismo de destaque, só que mistura deslumbramento com bufonaria. Tem tudo para dar errado.