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Não existe almoço grátis



Por incrível que possa parecer, o assunto político mais comentado de Campo Grande nesta segunda-feira esquisita foi um almoço.

Aparentemente, pessoas livres e conhecidas convidam quem bem entender para almoçar. Não existe nada na Constituição Federal que proíba um dono de jornal convidar três políticos conhecidos (a saber: Nelson Trad Filho, André Puccinelli e Edson Giroto) para compartilhar repastos numa mesma mesa.

O meio político e empresarial da cidade sabe que, volta e meia, o jornalista Antônio João Hugo Rodrigues promove este tipo de encontro, que, aliás, é uma espécie de tradição em todos os grandes jornais do Brasil e do mundo.

Mesmo assim, a história está mal contada. Imagine a seguinte hipótese: um sujeito convida Lula, Nestor Cerveró e Delcídio do Amaral para um almoço, esquecendo-se do "detalhe" de avisá-los a cada um sobre quem estaria participando do tal cafofo.

A imprensa descobre (tem sempre um espírito de porco para vazar essas coisas) e fica na porta do restaurante esperando eles chegarem, almoçarem e saírem. Seriam fotografados e entrevistados.

Com certeza, esse "fato" trivial se transformaria num filé suculento de especulações e fofocas. Todos teriam sua versão particular para o acontecimento. O Brasil entraria em delírio.

Foi mais ou menos isso que aconteceu, dentro das proporções vigentes. O ex-governador André Puccinelli concedeu entrevista na entrada do prédio do jornal, onde aconteceria o "almoço".

Quando lhe foi perguntado sobre o ex-deputado Edson Giroto (que estava preso desde a semana passada) e o ex-prefeito Nelson Trad , André reagiu contrariado: ali ele percebeu que havia caído numa armadilha, e que a comida lhe causaria indigestão.

Ele afirmou que não sabia que Nelsinho e Giroto estariam presentes ao encontro. "Eu fui convidado para almoçar com o Antonio João". Pareceu puto. Mas respirou fundo. Entrou e saiu rápido.

Pela surpresa, constrangimento, serenidade, as imagens da entrevista dão a impressão de um personagem que foi pego com as calças nos joelhos no meio do mato. Mesmo assim é crível o depoimento de André. Nem o melhor ator do mundo conseguiria deixar de revelar na fala e nos gestos o incômodo que estava sentindo.

Mas quem conseguirá convencer o público de que não havia  ali uma trama maquiavélica em curso? Ou seja: era um simples almoço. Um expert do nosso planeta político enviou-me uma mensagem: "Não fui convidado. E se fosse, não aceitaria. Tenho medo de estricnina".

Acho que alguém pisou feio na bola nessa história.