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Jornalismo tende a ideologizar conflitos indígenas em MS



Quem acompanha pela imprensa os conflitos indígenas que vem ocorrendo em Caarapó (MS) percebe um claro subtexto desequilibrando o contexto. Dificilmente, jornalistas conseguem se libertar do velho cacoete "índio bom, fazendeiro mau". Na verdade, esse é o maniqueísmo que transforma acontecimentos dramáticos em disputas meramente ideológicas. Tudo errado.

Até o momento, a desinformação é total, pois não se sabe exatamente o local e em quais circunstâncias morreu o índio (auxiliar de enfermagem), Cloudione Rodrigues Souza. Não se sabe se é verdade ou mentira que enterraram uma criança durante uma ação de fazendeiros com pá carregadeira. Não se sabe ainda o que, de fato, ocorreu com policiais seqüestrados por grupos indígenas e com o atropelamento de 6 índios no local dos conflitos. 

Os moradores de Caarapó não querem falar com a imprensa. Os "mentores" dos grupos indígenas espalham desinformação; os policiais são fontes suspeitas e afirmam que estão “investigando”. Os proprietários rurais evitam falar ao telefone. Ou seja: a paranóia é geral, a insegurança intensifica-se e o medo vigora. Essas pessoas guardam experiências desastrosas do circo da mídia em eventos passados.

Diante disso, os governos são omissos e só propõem medidas salvadoras quando o estado de guerra torna-se realidade. A imprensa (não por culpa dela) faz coberturas parciais. Na verdade, não se pode achar que é simples coincidência que vários acontecimentos simultâneos estejam ocorrendo numa só região, sem que as coisas se liguem. Índios, traficantes, assassinos profissionais, políticos oportunistas etc,. tudo se junta num só caldo de cultura. Para se entender isso, assistam ao filme "Sicário". 

Olhando a questão do alto, juntando as peças, é preciso informar que a região de fronteira está convulsionada faz tempo: há grupos de traficantes do Rio de Janeiro (que a polícia denomina de "Os cariocas") tentando assumir o controle de vários pequenos municípios, determinando inclusive toque de recolher para a comunidade e até para a polícia (um policial foi morto por causa disso recentemente); há mobilização de ONGs internacionais (que atuam no Brasil, Paraguai, Bolívia e Venezuela) levando militantes indígenas para implementar a política de "retomada" a ferro e fogo; há um tremendo revertério no crime organizado em Ponta Porã com o assassinato do Capo Jorge Rafaat Toumani; enfim, tudo se interconecta, transformando aquela parte geográfica do planeta numa verdadeira faixa de Gaza. 

Enquanto isso, a mídia trata dessa pauta de forma isolada, transformando índios em vítimas ou heróis, traficantes em semi-deuses e proprietários rurais em agentes do mau. Nesta quinta-feira quatro pequenas propriedades foram saqueadas em Caarapó, o que demonstra que a distribuição de danos atinge a todos, ricos e pobres. Onde fica a tese do opressor e do oprimido? (veja aqui). 

Para não dar muita bandeira e mostrar certa preferência pelos "oprimidos", a mídia e as autoridades remetem a solução para o "Governo Federal", um ente abstrato, que não consegue atingir o mundo real. 

A "Guerra na Fronteira" envolve grandes interesses. Inclusive aquele que utiliza dinheiro vivo para financiar campanhas eleitorais de candidatos do sistema.