A guerra pelo controle do tráfico de drogas, contrabando e lavagem de dinheiro na região de fronteira de Mato Grosso do Sul com o Paraguai tem outra faceta pouco analisada pela imprensa brasileira: o financiamento de campanhas eleitorais.
Desde 2010 grupos organizados ligados a facções criminosas tem repassado dinheiro vivo a candidatos diversos para ajudá-los a ganhar votos. Na região de fronteira de Mato Grosso do Sul o assunto inclusive é comentado abertamente.
Nas eleições de 2014, por exemplo, houve fortes rumores nos bastidores políticos do Estado sobre financiamento indireto do crime organizado a candidatos de todos os partidos, inclusive com alguns registros de apreensões de malas de dinheiro sendo transportadas para vários municípios na região de Coxim e São Gabriel d'Oeste.
Nas eleições deste ano, com o fim das doações empresariais, há grandes possibilidades de organizações criminosas atuarem de forma mais ostensiva no apoio a candidaturas de prefeito e vereadores, principalmente nos municípios que integram a grande faixa fronteiriça de Mato Grosso do Sul.
Mas os recursos podem chegar a outras praças, dependendo da necessidade de turbinar candidatos específicos.
Especialistas no assunto, tanto na Polícia Federal como na Secretaria de Segurança do Estado, avaliam que “pelo menos 30% dos recursos que podem circular nas campanhas virão de alguma forma dos grupos criminosos”.
Esse é um valor difícil de estimar porque as transações são realizadas em moeda viva, distribuídas por vários intermediários dentro e fora dos partidos, geralmente feita por operadores discretos, que apóiam candidatos com perfil mais aderente ao favorecimento dos esquemas desses grupos.
“Na fronteira não dá para saber de onde vem o dinheiro; o cara é eleito com compromissos de facilitar as atividades criminosas desse pessoal, facilitando acesso às autoridades, fornecendo informações oficiais e garantindo liberdade de ação nos territórios ocupados”, comenta um delegado que prefere manter seu nome ocultado.
Além disso, o crime organizado tem feito a opção de repassar dinheiro para pequenas igrejas evangélicas que entregam aos candidatos para a compra de votos. “Essa é uma realidade que a sociedade tem que discutir e denunciar quando perceber indícios de irregularidade”, comenta.