Caos e Culpa
De quem é a culpa pela crise de Campo Grande? A pergunta pode ter duas respostas. A primeira é de que isso não importa; a questão fundamental é propor saídas para resolvê-la. A segunda é de que o importante (ou seja, definir as responsabilidades pela bagunça) é ter diagnósticos da série histórica das três últimas gestões para que a população possa a debater abertamente soluções para os problemas e não repeti-los no futuro.
Juntando as duas coisas, temos um dilema. O atual prefeito da cidade tem condições para resolver a crise no tempo que lhe resta de mandato? Muitos podem achar que essa é sua obrigação, visto que foi eleito para isso, sem contar que vem lutando com unhas e dentes para se manter no poder. Outros podem achar que, com base na experiência cotidiana, o melhor que ele poderia fazer é não agravar a situação, esperando as próximas eleições.
O quadro torna-se mais complexo quando se imagina que até o momento não se sabe qual é a verdadeira radiografia da situação. Não há política de transparência que demonstre com clareza quais são as dificuldades, qual o tamanho do rombo financeiro, quais compromissos contratuais de curto, médio e longo prazos com o funcionalismo e os prestadores de serviços, enfim, qual é o balanço geral e real da situação.
Sim, há rumores aqui e ali, há reuniões na Câmara de Vereadores com apresentação de planilhas orçamentárias, há indicadores e dados esparsos, mas o fato é que parecer haver um jogo de espelhos e que há intenção deliberada em esconder a verdade nua e crua dos cidadãos porque, como se diz, há interesses pesados envolvendo questões políticas, corporativas, empresariais etc.
Tornou-se lugar-comum dizer que Campo Grande é sinônimo de caos. A cidade há muito está perdendo a vitalidade econômica. Há denúncias de corrupção pesada em toda máquina administrativa, há reclamação (justa e correta) de que serviços essenciais como coleta de lixo, saúde e educação pararam de funcionar, há verificação direta de que a dinâmica urbana colapsou-se de maneira quase irrecuperável.
A eleição de 2016 vai exigir dos candidatos a prefeito e vereadores uma posição quase heróica diante dos complicadores que eles terão que enfrentar. As demandas aumentam e evoluem a cada dia. O passivo social indica que não haverá medida sustentável que possa recolocar o município nos eixos.
Diante disso, é perfeitamente cabível perguntar: quem terá coragem de fazer o diagnóstico verdadeiro dos problemas da Capital e propor uma inflexão dolorosa para colocar a casa novamente em ordem?
Quem conhece a classe política sabe de antemão que ela jamais correrá o risco de falar a verdade. É mais fácil vender ilusões. Turbinar as esperanças com imagens e musiquinhas melosas em vez de debater a vida real.
Mas será que não é o momento de se tentar o inusitado? Ousar um pouco mais e mostrar a realidade, fazendo ao mesmo tempo propostas exeqüíveis, longe da maquiagem marqueteira, mostrando que depois de Bernal-Olarte-Bernal só com choques doloridos podemos sair do buraco?
Talvez seja ingênuo pensar assim. Mas não há dúvidas de que isso representaria um avanço cultural na nossa história política.