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Bolsonaro não pode sair do campo da piada


Um sujeito chamado Adolf Hitler surgiu na Alemanha nos anos 30 como um personagem caricato. Ninguém o levava a sério. Falava coisas amalucadas, destilava preconceitos contra judeus e comunistas, fazia encenação histérica com temas periféricos, enfim, nada que fosse relevante para o universo.

O tempo passou. As coisas mudaram no País. A crise econômica alemã foi dramática. Hitler permaneceu o mesmo. Com uma diferença: ele começou a ser levado a sério. Ganhou as massas. O resto é história.

Sei que Bolsonaro não é Hitler. Falta-lhe o carisma dos psicopatas. Mas ele carrega alguns distúrbios messiânicos que não podem ser desprezados. E o mais grave: as instituições o estão levando a sério.

Esse será o grande erro. O Supremo e a Câmara dos Deputados estão, na verdade, turbinando uma importância que Bolsonaro não tem. Suas bravatas, seus gracejos, suas piadas tem que ser considerados o que são: gracejos, piadas e bravatas.

Mas gente tão maluca como Bolsonaro – a deputada Maria do Rosário, o deputado Jean Wyllys e toda a tropa de choque da esquerda no Congresso – compra suas performances pelo valor de face. Assim ele vai crescendo.

Pesquisas sucessivas de opinião sobre as perspectivas das próximas eleições presidenciais apresentam índices preocupantes em relação ao deputado carioca. Preocupantes para gente como eu que ainda nutre uma nesga de fé pela raça humana. Ele segue uma escala ascendente. Saiu do traço há dois anos e hoje tem cerca de 7%. No momento em que ele ultrapassar 10%, será tarde demais: mesmo que não tenha chance de se eleger ele imporá sua agenda no debate político.

Quem viver, verá. Mas o que se pergunta entre aquela camada que se julga detentora do pensamento correto é o seguinte: o que chama a atenção em Bolsonaro? Vejo jovens fissurados com seus vídeos, suas imprecações homofóbicas, falando com desassombro sobre estupro, achando uma graça aberta de tudo isso, enfim, dando sinais de aprovação desafiadora aos adultos em torno do comportamento do deputado.

Na verdade, o que talvez essa gente esteja nos colocando é que deseja um político que fale sinceramente as coisas como elas são, sem enfeites, sem salvaguardas, não se protegendo com a hipocrisia costumeira. É com se gritassem: Bolsonaro é o mundo real; o resto, apenas ilha da fantasia.

Só que tudo isso é falso. Bolsonaro é o retorno do recalcado do nosso primitivismo mais assustador.