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A disputa por Campo Grande


Como todos sabem, a política não é o reino da coerência. A realização de um pleito eleitoral dissolve todo tipo de interesse, ideologia, letrinhas partidárias, ódios e amores pessoais no mesmo liquidificador.

Volto um pouco ao passado: no dia 27 de outubro de 2014, na comemoração da vitória eleitoral de Reinaldo Azambuja, junto com o revertério da derrota de Aécio Neves, encontramos, em meio àquele misto de euforia meia-boca, um Sérgio de Paula exultante, suado, vermelho e eufórico, abraçado ao futuro governador, gritando as seguintes palavras: “minha verdadeira alegria foi ter derrotado o Londres; esse está sendo meu grande prazer, o resto vocês comemoram aí, eu seio quanto custou para derrotar esse cara...”, lançando daí aqueles famosos impropérios proibidos para os ouvidos de moças ao longo de sua fala.

Reinaldo Azambuja não falava nada. Apenas fazia sinal de positivo e abraçava seus correligionários. Era um sinal.

Pois bem. Agora estamos em 2106. Vejo nos jornais Londres Machado, Reinaldo Azambuja e tantos outros abraçados, fazendo juras de amor em torno da candidatura de Rose Modesto. Os adversários de ontem convertem-se em amigos de hoje.

Como todos sabem, a política é o reino da hipocrisia, tudo passa pela escolha de alguém que faça o papel de mocinho contra o bandido. Sem a existência de um “inimigo”, nada funciona. Nas eleições passadas o grande êmulo demoníaco era o PT e a “velha política”, corporificado em Delcídio e Londres.

O tempo passou e tudo mudou. Londres foi repentinamente purificado. Agora talvez o bandidão do espetáculo seja Bernal. Mas com aquela voz suave, aquele papo insípido, aquele olhar manso, vai ser complicado transformá-lo em capeta. É risível o esforço que o Correio do Estado vem fazendo nesse sentido.

O fato concreto é que as candidaturas ora apresentadas (os partidos ainda estão na fase do blefe) são um deserto e seus temores. A cena é tétrica. Até o momento não surgiu um nome que não tem um podrezinho aqui e ali para ser explorado.

Tudo está a indicar que a vítima, mais uma vez, será o eleitor.