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Dante Filho: O tempo é de loucura

 


1 - Aconselho aos pais não deixarem as crianças assistirem ao noticiário nestes tempos difusos. Mais tarde, elas se tornarão pessoas piores. Ver a briga tarifária de Trump, o bate-boca envolvendo Lulistas e Bolsonaristas, as opiniões de especialistas acenando para o caos que se aproxima, mentiras obscenas ditas com a maior naturalidade, nada disso é saudável para a saúde mental.

Trump é um sujeito incerto. Ele anuncia uma medida hoje e amanhã muda de ideia. Sua estratégia política é nos manter em suspensão, como naqueles filmes do Tom Cruise em que o mundo sempre está por um fio. Ele gosta de fato novo. Todo dia tem uma novidade escabrosa. Milhares de pessoas embarcam na discussão de sua pauta e depois ele dá meia volta, diz que estava blefando, rindo do gasto de energia que toda a celeuma provocou. Não se enganem: Trump está fazendo tudo aquilo que havia prometido na campanha que o elegeu. Sua loucura tem método.

2- A movimentação de Trump, aparentemente para defender Bolsonaro e a liberdade de expressão no Brasil, tem baixa credibilidade. No primeiro momento, vi ali muito daquelas briguinhas políticas que assisti naqueles lugarejos do interior, na qual provocações baratas, fofoquinhas de quinta, diz-que-diz da dona Candinha, excitam a população e todo mundo embarca num debate estéril que, no final, produz só vapor zero e nada de energia real.

3- O presidente dos EUA diz que a partir de 1º de agosto a cobra vai fumar. Qualquer produto brasileiro que entrrar nos EUA vai pagar 50% de taxa de importação. Enquanto isso, a classe dirigente brasileira circula como baratas tontas sem saber para onde correr. Lógico, Lula ( o encantador de serpentes) está aproveitando a chance para recuperar a popularidade perdida tentando jogar o bolsonarismo nas cordas, culpando-o por esse desastre. Bolsonaro, ao contrário, acusa Lula. Eles se amam. O problema é que os tempos em que vivemos são nutridas por emoções breves e instantâneas. A memória sucumbe diante da sucessão de fatos.

Assim, o que hoje define o quadro político, amanhã será apenas quimera. É melhor os profetas terem cautela porque o verdadeiro jogo ainda não começou. Daqui a seis meses, as consequências do que ocorre hoje estarão cristalizadas e, como sempre acontece, a incerteza e a imprevisibilidade são os unicos fatores que permancerão imutáveis.

4- Ainda não não se formou um consenso sobre o que resultará concretamente as medidas de Trump. Ainda estão construindo narativas para ver quem vai levar a culpa por tudo que se diz que vai acontecer. Economistas como Zeina Latif e outros mais racionalistas afirmam que estão fazendo alarmismo inútil. Há outros, principalmente ligados aos setores produtivos (principalmente ligados ao agro e à indústria) afirmando que haverá alta de inflação, desemprego, bagunça nas contas públicas.

Quem está com a razão?  

Quem está acompanhando, percebe que ainda não se tem uma visão clara e definida sobre os acontecimentos. Está todo mundo chutando. O telejornalismo de massa ( princilpamente o Jornal Nacional) continua na linha de destacar um detalhe do problema e transformá-lo em fenômeno gersl. É a velha desonestidade jornalística que por aqui se tornou padrão de qualidade.

5- O governador Eduardo Riedel está sendo acusado de ter adotado posição de equilibrista diante do cenário que se apresenta. Tem procurado não fazer declarações categóricas sobre algo incerto demais para formar uma opinião cravada. Sua cautela está sendo mal vista por vários setores econômicos. Tenho a impressão de que ele está correto. Quando não se tem uma ideia clara do jogo ser prudente é demonstração de sabedoria.

Claro que chegará o momento de falar. Quando isso acontecer, certamente deve ser algo que não seja apenas narrativa. Estamos cansados disso. Ao governador não cabe o papel de gritar "fogo!". Ele deve apontar saídas, principalmente depois que a algaravia cessar. O problema é que perdemos o costume de ver políticos cautelosos e sutilmente habilidosos. Pegamos gosto por malucos que não fala mais pela boca e sim por outros orifícios. O mundo está muito complicado. Muitas vezes, o melhor que se faz é dormir e acordar tarde.

6- Aqueles que imaginavam que a polarização afetiva entraria numa fase de esfriamento gradual errou. Vai acontecer o contrário. Com figuras como Xandão e Flávio Dino (que representam dois extremos da direita e da esquerda que se uniram no STF) a tendência é que os brasileiros se dividam cada vez mais. 

Vejo aqui e ali brigas de amigos e familiares com juras de ódio eterno. Quem tenta intervir e se colocar numa posição moderada perde a chance de ficar calado. Os chamados isentões também estão sendo interditados como animais exóticos. 

Ou seja: primeiro proíbe-se de falar, agora estão vigiando nossos pensamentos. Já tem gente especializada em analisar gestos, modo de vestir, gostos musicais e artísticos, livros e programas preferidos para apontar o dedo e lhe impor uma definição ideológica. Conselho: melhor não sair mais de casa.

7- O bolsonarismo está em baixa. A esquerda está carimbando em sua texta a pecha de americanismo e trumpismo. O brasileiro é um nacionalista de oportunidade. Na verdade somos um País antropofágico. Comemos todas as influências estrangeiras e produzimos uma mixórdia original. Somente na política somos regressivos. Achamos que é uma virtude gritar "yankee go home", mas na primeira oportunidade vamos para a Disney, Nova Iorque, Miami, e voltamos admirados com tudo o que vimos.

Nosso antiamericanismo é só pose. Na primeira oporttunidade corremos pra lá. É amor antigo. Tem mais ou menos 200 anos. Por isso, quando se pensa que a raiva que estamos sentindo de Trump o transformará no maior vilão de todos os tempos, basta ele fazer um gesto contrário do que hoje está em voga, que a maioria o chamará de herói.

Não adianta negar: o brasileiro é um povo sem nenhum caráter.

8- Uma frase de Leon Eliachar (estamos esquecendo dele) que ainda permanece eterna: "a verdade é uma só: todo mundo mente."