Cartazes de propagando do movimento
integralista brasileiro da década de 30
É idiota a afirmação do bolsonarismo de que o perigo do comunismo ronda o Brasil. Qualquer manifestação de pensamento que expresse ideias da social democracia, do liberalismo progressista, críticas à ditadura de 64 ou, ainda, a defesa das minorias etc do nada surge o dedo acusatório:"comunista !".
A maioria não sabe o que é "comunismo". Trata-se de uma imagem destituída de conteúdo. A afirmação não tem nada a ver com a base teórica do Marxismo: o fim da exploração do homem pelo homem, o controle do trabalhadores dos meios de produção, a supressão da propriedade privada, e, ao longo do processo histórico, a implantação da "ditadura do proletariado" com o desaparecimento do Estado para a fundaçao de uma sociedade igualitária, sem classes, "cada um segundo sua capacidade, a cada um segundo suas necessidades".
É bonito na teoria. Mas há séculos muitos tentaram colocar na prática esse ideário pensando estar trilhando o caminho para o paraíso, mas o que se encontrou foi totalitarismo, violência e supressão das liberdades civis. Não deu. O muro caiu, milhões morreram e a única verdade que se mostrou eficiente foi o pelotão de fuzilamento.
O comunismo é o bicho papão do conservadorismo. Para a maioria dos conservadores, a esquerda não tem matizes. Todo anti-capitalista (ou crítico do modelo) é agrupado numa massa homogênea e torna-se objeto de insulto.
Na mesma linha, a direita padece do mesmo equívoco. É estúpido e desinformado o conceito de que os liberais, os conservadores e os abilolados que gritam "mito!" pertencem ao grupo da "extrema direita". Esta é uma questão controversa, mas tem sido divulgada para efeito de luta eleitoral.
No Brasil, o extremismo de direita é residual. Há pessoas embaladas pelo facismo, mas não há partidos, grupos organizados e estruturados programaticamente, como ocorreu na década de 30 com o integralismo, com os chamados de os "camisas verdes", que desfilavam pelas ruas das principais capitais brasileiras com seus símbolos suásticos, convocando, sob o comando de Plínio Salgado, as massas para aderir às suas fileiras para implantar um regime ditatorial no País (uma mistura aristocrática de nacionalismo, catolicismo e militarismo).
A última vez que o integralismo deu um tênue suspiro (mas não provocou grandes comoções) no Brasil foi em 2019 quando, em ato atabalhoado, sob a denominação de "Comando de Insurgência Popular Nacionalista da Família Integralista Brasileira", três militantes detonaram uma bomba caseira na produtora de vídeo do Porta dos Fundos, no Rio de Janeiro, causando danos materiais, sem atingir nenhuma pessoa, mesmo porque o ato foi perpetrado numa madrugada de véspera de natal.
A Polícia concluiu que o grupo devia estar no hospício, visto que seu propósito era impedir que maculassem a imagem de Jesus Cristo num programa humorístico.
Tirando isso, por mais de 50 anos não se ouviu falar de direita radical no Brasil. A situação é diferente, por exemplo, em vários países europeus como Espanha, França, Alemanha, Itália, Hungria etc., que existem de fato grupos e partidos de extrema direita organizados, disputando as eleições, querendo chegar ao poder.
Na Rússia, Ucrânia e em alguns países do Leste Europeu há partidos Nazistas e eles atuam de maneira agressiva em manifestações públicas, expondo suas ideias programáticas de maneira contundente. Até nos Estados Unidos há partido nazista e de extrema direita, mas não representam nada e coisa nenhuma.
No Brasil, por exemplo, existem partidos de extrema esquerda como Partido da Causa Operária (PCO), Partido Socialista dos Trabalhadores Unificados (PSTU), Partido Comunista Brasileiro (PCB) e a Unidade Popular (UP), todos atuando dentro das regras da democracia, sem expressão eleitoral, sem densidade programática, fazendo proselitismo que não move nem comove sentimentos de formigas.
Na região do sul brasileiro há grupelhos neonazistas, mas se resumem a dezenas de pessoas e são rechaçados pela sociedade.
Diante desse quadro, a direita (conservadores, liberais, centristas e parcela de sociais democratas) nas últimas eleições vem conseguindo formar uma frente antipetista, fortalecendo um processo de polarização inédita no País. Isso está assustando a esquerda.
O PT e algumas agremiações satélites têm consciência do crescimento dos setores de direita e, conhecendo a aversão que a sociedade tem culturalmente aos extremismos, decidiu denominar os grupos moderados de direita de extrema direita, mais com o fito de gerar desinformação do que dar clareza sobre os movimentos reais do campo político.
É uma malandragem, mas dentro do jogo político a estratégia é legítima, apesar da desonestidade intelectual.
Não se sabe se isso vai colar.
Observar o Bolsonarismo e concluir que se trata de um segmento coeso de extremistas de direita é o mesmo que considerar o PT um braço do comunismo internacional a assombrar o sonho das criancinhas.
Quando muito, o petismo, majoritariamente, é social democrata, com sub grupos exóticos que mais atrapalham do que ajudam o partido. Estão longe do comunismo conceitual.
Na política há uma regra de ouro. Quem conseguir demonizar com maior eficiência o inimigo vence o jogo. A semântica é fundamental: quem é pior? Os comunistas ou a extrema direita?.
Usando esse estratagema, milhares de idiotas úteis embarcam neste discurso divisivo, muitos indo para o braço quando as palavras e a tolerância se esgotam em xingamento mútuos.
Tanto à direita como à esquerda, ambos são fascistas caso adotemos o pensamento fulcral do filósofo Bertrand Russel de que o "o facismo não é uma ideologia, apenas uma manifestação de raiva".
Volto à pergunta que deu origem a este texto: existe extrema direita no Brasil? A resposta é sim. São organizados e funcionam como massa orgânica? Acho que não. São indivíduos isolados e excluídos em busca de um líder, que, francamente, não acho que seja Bolsonaro porque o personagemsó tem discurso e não tem coragem de colocar em prática o que fala (vide a audiência recente com Xandão).
O fato verdadeiro é que a extrema direita brasileira não consegue lotar uma kombi e formular um programa que não seja uma ode à psicopatia e um crime à língua portuguesa.