Pages

Alexsandro Nogueira: Quando um cão na rua vira ameaça ao regime

 

 


Leio na imprensa a notícia de que no Irã os cães viraram uma ameaça à ordem social. O assunto recebeu tratamento tímido por parte dos veículos de imprensa. 

A exceção foi o jornal New York Times que deu destaque ao tema. No mundo Persa, o regime teocrático proibiu os passeios com animais de estimação nas ruas. Motivo? Para os aiatolás, o cão é um ser “impuro” e permitir que ele circule entre humanos seria quase uma afronta moral.

Pode parecer folclórico, exótico até, para quem olha do conforto de uma democracia ocidental. Mas não é. A proibição se soma a uma longa lista de arbitrariedades de um regime que, desde 1979, faz do país um território medieval. 

No Irã, não se pode opinar, vestir-se ou pensar livremente, muito menos protestar.

Enquanto os céus entre Teerã e Tel Aviv se enchem de mísseis, o mundo foca nos alvos militares. Israel impede que o Irã conclua seu programa nuclear. Já os líderes iranianos, por sua vez, tentam resistir. Mas fica uma pergunta emblemática: Afinal, o que pensa o povo iraniano?

O historiador Arash Azizi tenta responder à essa pergunta inquietante com o slogan (Mulher, Vida e Liberdade) nascido da revolta pelo assassinato de Mahsa Amini, jovem curda morta por não usar corretamente o véu islâmico.

O episódio, embora brutal, não foi exceção. Desde a chegada de Khomeini, o regime impõe o uso do véu com chicotes e ameaças. Quem estiver na linha de frente da revolta contra os líderes iranianos, viraram alvos preferidos do regime.

Hoje, as mulheres iranianas lutam pelo básico: dignidade. Querem falar, rezar e vestir-se com liberdade.

Os iranianos querem paz. Nas ruas, uma frase virou palavra de ordem: Querem um país respeitável, que não gire em torno de radicais como Hamas ou Hezbollah. Querem deixar o estigma de pária internacional.

Enquanto analistas se debruçam sobre estratégias e egos a voz mais importante permanece ignorada: a do povo iraniano. Eles não pedem muito. Só querem viver e passear com seus cães pelas ruas.


Alexsandro Nogueira é escritor, jornaista e músico