Fernanda Torres no meio do furacão da polarização brega.
Depois que a atriz Fernanda Torres ganhou o Globo de Ouro, indicada a melhor atriz da temporada, o Brasil polarizou em torno dela. Todo dia tem uma notícia sobre os prós e contras sobre sua possibilidade de ganhar um Oscar.
O Lulismo torce por ela porque quer fazer propaganda em torno de uma vencedora de seu time ideológico.
A direita faz o mesmo, só que ao contrário. Dá nojo.
O pau tá comendo solto. A atriz mesmo tornou-se irrelevante. Ela - e seu filme - perderam qualquer sentido quando essa torcida boba entra em nosso ambiente cultural, gerando uma esfera pública que rebaixa a todos como seres humanos medíocres e imbecis, transformando-nos em fantoches das militâncias idiotas.
O pessoal esquece que Fernanda representa uma personagem inserida num contexto político dentro de um filme (uma obra de ficção) que registra um momento da história do Brasil. Não estamos falando de uma tese acadêmica nem de um documentário que reivindica o selo de uma "história verdadeira".
Desde que o mundo é mundo sabe-se do desaparecimento do deputado Ruben Paiva. Sabe-se que o regime militar e seus canalhas o matou. Seu filho é um escritor famoso e publicou um livro de sucesso cujo título é "Ainda Estou Aqui" contando a dor familiar em torno desse "desaparecimento". Um cara endinheirado resolveu adaptar a obra e produzir um filme.
Dizem que fez um bom trabalho. Daí, Fernanda (que não era a primeira opção para atuar como a protagonista, a esposa de Ruben Paiva, Eunice Paiva) aceitou a fazer o papel.
Tudo dentro da normalidade. Fernandinha é famosa, é escritora de mão cheia, tem uma longa história no ambiente público e artístico brasileiro, e, crime capital, tem opiniões bem estruturadas, não costuma falar bobagens, é relativamente bonita, rica e muito inteligente. Mais: se coloca no cenário político como progressista à esquerda, algo que é problema só dela.
Pois bem. Num País normal ela seria celebrada. No Brasil distorcido ela virou sinônimo de confusão. Não dá.
Ou seja: ela carrega todos os ingrediente da benevolência, da maldade, da inveja etc, etc. Se ganhar o Oscar, a polêmica se arrastará por algum tempo tendo bolsonaristas e lulistas em trincheiras opostas, atirando com as armas modernas das redes sociais: memes, chacotas, piadas, ao lado de homenagens, elogios e convites internacionais.
Ninguém terá direito a ficar isento. Os polos obrigam que cada um se posicione. Ficar em silêncio é proibido. Estamos vivendo a ditadura do posicionamento.
Lula vai aproveitar o momento, pois sua popularidade precisa de qualquer nesga positiva para que ele saia do respiradouro do viés de baixa.
A turma de Bolsonaro vai reiterar que o filme distorce a ditadura, distorcendo a história patriótica do Brasil do "ame-o ou deixe-o".
Enfim, o termômetro polarizador vai esquentar sua baterias. O ambiente continuará tóxico e tudo será motivo para debates acalorados.
Se eu fosse Fernanda Torres e conquistasse o Oscar fugiria por uns dias para uma ilha deserta. O Brasil tá escroto demais!