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Alexsandro Nogueira: Janeiro e suas previsões inúteis

 



Estamos no fim do mês de janeiro, mas a vida parece ainda hibernada. É fácil notar, mas a maioria das pessoas exalam ainda o aroma do recesso natalino, como se o ano tivesse decidido dormir até o Carnaval.

Abro os jornais e vejo o mesmo cardápio de notícias que fecharam 2024: personalidades emergentes divagando sobre 2025, eventos esperados e tragédias climáticas hipotéticas. Um desfile de obviedades embaladas em listas coloridas nas manchetes.

Corro para as redes sociais, mas o cenário ainda é mais desolador. 

Na realidade virtual, uma turba de influencers e suas virtudes mentirosas para ser exibida nos perfis e que apenas servem para alimentar a vaidade do suposto virtuoso.

Infelizmente nos últimos anos, algo novo se somou à chamada editorial dos veículos: as previsões. Uma espécie de Mãe Dinah sobre o futuro da plebe com listas de conselhos, que misturam autoajuda barata e um otimismo tão falso quanto as promessas que se multiplicam nas ceias familiares da virada Ano Novo. 

Não tenho nada contra a hipocrisia, aviso já. Sem ela, a vida em sociedade seria impensável.

A famosa lista de conselhos para o futuro, começa com chavões do tipo: "Aprenda a dizer não"! Um clássico dos manuais, como se o problema de quem trabalha para sobreviver fosse a falta de firmeza nas palavras e não o excesso de boletos para pagar.

Sigamos para outra frase famosa: “viva cada dia como se fosse o último". Um convite à intensidade absoluta, um frenesi destrutivo, como se a única resposta fosse esgotar a vida antes que ela nos escape, mas que em vez de liberdade, traz um peso insuportável para a alma, e nos leva ao manicômio. 

Uma reflexão lateral: sabemos que a morte nos espera, mas não vivemos bem com essa certeza. Para existir, precisamos da ficção de que o futuro está logo ali, ao nosso alcance. Sem essa ilusão, o presente se torna uma prisão claustrofóbica, uma espiral de desespero. Fácil seria aceitar a mortalidade sem a obsessão de torná-la protagonista de cada momento.

Há ainda outros conselhos que mais parecem tiradas de um filme de Renato Aragão: "Siga sua paixão e o dinheiro virá". Eis uma pérola que só fazem sentido para quem resolve abrir uma seita religiosa ou traficar drogas.

Talvez, a maior falácia seja a ideia de que "você é o único responsável por seus limites". É ingênuo acreditar nisso, mas a vida insiste em nos lembrar que há outras forças em jogo: a sorte, os colegas de trabalho e até o imponderável como um carro desgovernado que ninguém vê chegar e pode nos levar a fatalidade. Afinal, as previsões do início do ano nunca incluem o imprevisível.

No fim, janeiro sempre será o mês das promessas com prazo curto de validade. Um calendário de expectativas que frustram ao primeiro obstáculo. Talvez, o segredo não esteja em aprender a dizer “não” ou em viver como se não houvesse amanhã, mas em acolher o peso dos dias com a leveza que a vida exige. Um passo de cada vez, porque a vida nunca foi uma corrida contra o tempo — e o que realmente importa raramente entra nas listas coloridas das manchetes dos jornais.




Texto de Alexsandro Nogueira, jornalista, escritor, músico e colaborador do Blog