Uma tela de Bosch, do período medieval, revela a alma de Campo Grande no atual momento político -
Se você pesquisar no google a palavra "pantagruel" vai encontrar o seguinte significado: quando "tudo está alterado" ,ou, se preferir a versão histórica, trata-se do nome do demônio do folclore medieval na Bretanha cuja fama era de se divertir atirando sal no boca dos bêbados.
Lá pelos anos de 1470 um pintor chamado Hieronymus Bosch produziu uma obra prolífica que retratava o espírito de um tempo em que fanatismo, política, religião, selvageria social transformaram o mundo numa mixórdia no qual só a ideia fixa do apocalipse tornou-se a única verdade aceitável pelo os que aqui habitavam.
Acompanhando o cenário político de Campo Grande nesta reta final para a escolha da futura prefeita concluí que os quadros de Bosch podem ser a perfeita tradução do que estamos vivendo (me ajude aí Humberto Espíndola).
As redes sociais estão entupidas de depoimentos criticando ou enaltecendo as duas candidatas, ao mesmo tempo em que nos soterram com denúncias de última hora, em quadros surrealistas, onde porco aparece com cabeça de galinha, elefante com trompa de saxofone, cavalos com corpo de ema, jabuti com asas de águia, peixes de aquário com bico de papagaio.
Loucura, loucura, loucura...
A avidez pelo poder, a sofreguidão pela vitória a qualquer custo, a tara absoluta para ocupar o cargo máximo da Capital do Estado, começam a assombrar aquelas pessoas que ainda mantém sua sanidade, e se esforçam na busca de uma luz que demonstre onde está a verdade, merecendo assim o o sufrágio da maioria, até para garantir o mínimo de decência na hora de gerir o dinheiro do contribuinte para o bem comum.
Os observadores mais atentos - diante dessa terrível escolha de Sofia que o eleitorado nos propôs no segundo turno - estão convencidos de que esta eleição não é mais sobre a cidade, e sim sobre quem somos e para onde vamos.
No fundo, estamos procurando uma forma de escolher alguém parecido com a gente, mas está complicado. Perdemos nossa identidade, estamos num vácuo tentando encontrar um eixo de apoio que nos coloque no plano vertical, com noções de horizontalidade.
A escolha é pela definição de qual reflexo do espelho preferimos neste momento.
O da Morena? O da Baixinha de botina?
Confesso que a dúvida é cruel. Ou melhor: pantagruélica. Bosch está vivo entre nós.
Sei que neste momento apelamos para simpatias pessoais, atributos físicos, crenças ou ideologias que guardam similitudes com nossos valores, apoios de personalidades, enfim, o conjunto de ingredientes que ajudam a formar um conceito para que justifique nossa escolha na hora do voto.
No próximo domingo, vamos fazer essa escolha em meio a um turbilhão de vozes, luzes, cenários, algaravias contraditórias, borburinhos sinistros, um amontoado de informação duvidosa produzida pela mídia, pelos institutos de pesquisa, pela fofoca da padaria, uma confusa zoeira de som e fúria divisivas que faz parece que borboletas estão voando na boca de nosso estômago.
Difícil, é difícil...
O método comparativo entre as duas candidatas não ajuda. Ambas são parecidas na essência. Reconheço que Rose é mais experiente, inclusive na malandragem.
Acho ela dissimulada, mente muito, se vitimiza, no último debate mostrou que aprendeu a falar a linguagem do baixíssimo clero, misturando-se àquele estrato que atua no submundo dos negócios públicos em benefício dos interesses privados.
Enfim, Rose fala como se fosse dona de empreiteira, mexendo com negócios estranhos no meio de contratos da empresa-mãe com filhotinhos terceirizados.
Adriane é diferente porque parece que tem medo das instituições de controle, não se sente confortável em meio a denúncias e escândalos, é insegura, recua quando faz bobagens monstruosas, e, vantagem das vantagens, está melhor cercada, por um entorno que tem noções de republicanismo e pensa duas vezes antes de atolar o pé na lama.
A prefeitinha não é perfeita. Mas é melhor do que Rose.
Como se diz, "não tem tu, vai tu mesmo".
PS - Tenho acompanhado uma série de postagens do deputado Pedro Pedrossian Neto contra a prefeita Adriane Lopes. Marquinhos Trad tem feito o mesmo. Mas há uma abissal diferença entre ambos. Pedro Neto está se sentindo ultrajado e não se conforma com a mudança de personagem da prefeita. Tem razões de sobra para isso. Marquinhos, não. Será que ninguém vai lembrá-lo das declarações do deputado Lídio Lopes de que o ato de deixar a prefeitura no meio do segundo mandato foi um acordo político entre ambos, realizado antes de Trad disputar sua segunda eleição? Ora, Marquinhos não pode reclamar de nada: ele aceitou um cheque em branco, numa negociação duvidosa, inspirada por um delírio místico.