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Por Alexsandro Nogueira - Calígulas e Neros: A ascensão do circo eleitoral e a decadência da política

 

 

A cadeirada de Datena em Pablo Marçal 
simboliza a essência da política brasileira

Debates eleitorais se transformaram em verdadeiros circos de horrores, onde a lógica e o bom senso ficam em segundo plano. O que poderia ser um espaço para o esclarecimento e a troca de ideias tornou-se um embate entre gladiadores selvagens, com candidatos mais preocupados em atacar para atrair likes nas redes sociais do que discutir propostas que vão construir a sociedade.

A coisa funciona assim: a dinâmica desses encontros é marcada por uma retórica inflamável, cheia de ataques pessoais que pouco contribuem para o entendimento dos eleitores. O que se vê é um desvio constante do foco das questões relevantes, onde os debatedores preferem lançar fake news, desqualificando o oponente. 

As perguntas, longe de serem instrumentos de esclarecimento, transformam-se em armadilhas que fazem da discussão um ciclo vicioso de acusações, deixando o eleitor mais confuso e desmotivado a votar.
A ascensão de figuras bizarras como José Luiz Datena e Pablo Marçal simboliza uma era de boçalidade e superficialidade na política. Com discursos na base do oba-oba e propostas rasas, ambos evocam um passado em que a loucura e o absurdo reinavam como método. 

A lembrança dos imperadores Calígula — que nomeou seu cavalo como senador — e Nero — que matou a mãe — me vem à mente quando observo o apresentador populista e o coach se digladiando com ofensas e cadeiradas. 

O que esses novos "candidatos" nos revelam sobre a atualidade política? Que a cultura do espetáculo se sobrepõe à substância, levantando questões não apenas sobre as capacidades desses indivíduos, mas também sobre o caminho que estamos trilhando enquanto sociedade.

Um exemplo de como os debates podem ser mais esclarecedores foi o programa da ABC News com Donald Trump e Kamala Harris, onde mentiras e distorções foram contestadas ao vivo por jornalistas que atuaram como moderadores críticos. 

A presença de uma imprensa mais ativa é fundamental para impedir que discursos enganosos se espalhem, permitindo um debate mais claro e informativo.

Se os debates eleitorais realmente almejam servir ao eleitorado, é crucial que sejam estruturados para oferecer informações verdadeiras e comparações diretas entre as propostas dos candidatos. 

Transformar esse espaço em um verdadeiro campo de ideias, em vez de um palco de confusões, seria um avanço significativo para a sociedade e a democracia. 

É hora de repensar o formato atual, responsabilizar os candidatos e priorizar a verdade sobre a busca por curtidas nas redes sociais. 

Só assim poderemos aproximar a política das reais necessidades da população, em vez de alimentá-la com espetáculos vazios que desqualificam o debate público e comprometem o futuro.


Alexsandro Nogueira é jornalista, escritor e músico. Colaborador do Blog