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Está na hora de colocar o populismo pra fora da prefeitura de Campo Grande

 

Candidatos à prefeitura de Campo Grande: 
Rose, Beto, Adriane e Camila

O populismo não é um conceito unívoco. Há teorias e definições para todos os gostos. O termo surgiu no século XIX na Rússia e durante muito tempo foi visto como algo positivo. Marx escreveu sobre o assunto, dando relevância aos aspectos que conferiam o poder das massas sobre as elites exploradoras e gananciosas.

Depois, o populismo começou a ser mal visto. Teóricos modernos afirmam se tratar de uma excrescência política: mistura de nacionalismo, superficialismo, messianismo, enfim, uma maneira de unir poder e povo sem qualquer instituição intermediária.

O tempo mostrou que essa fórmula resultava em caudilhismo, autoritarismo, fascismo e ruína administrativa. Vejam o que está acontecendo com o Brasil nos últimos tempos quando trocamos um populista de direita por um de esquerda.

No fundo, por mais que tentemos definir governos populistas, na verdade estamos nos referindo a governantes populistas. Eles respondem que são "populares". Não se trata disso.

O populismo atua sempre no plano discursivo, no comportamento teatral, nas performances eleitorais elaboradas para agradar os eleitores que enxergam a política com desprezo e gostam de ver os palhaços no picadeiro. Vejam o caso de Pablo Marçal e tantos outros que aparecem para nos divertir, até esgotar seu estoque de piadas.

Todas as eleições os candidatos fazem concessões ao populismo, em qualquer País do mundo, mesmo dentre aqueles cujo padrão educacional seja elevado, pois existem regras de comunicação humana que necessitam da transmissão de um conteúdo que uniformize a compreensão sobre os problemas da comuna e as propostas para solucioná-los.

Isso acontece desde quando a Grécia antiga inventou as várias formas de democracia para gerir as cidade-estados. Candidatos sempre prometeram aquilo que não podiam, sempre venderam esperança, sempre denunciaram quem estava no poder e sempre criaram um inimigo imaginário para forjar o antagonismo necessário entre o bem e o mal.

Campo Grande, infelizmente, vem sendo gerida sucessivamente por populistas de centro ou de direita há muito tempo, o que, de certa forma, explica a decadência gradual da cidade. Há projetos, há capacidade criativa, há boas ideias, mas falta zeladoria, falta compromisso verdadeiro com o processo de desenvolvimento. Nossas elites são  extrativistas e todos querem um naco para fazer negócios e ganhar dinheiro fácil.

As gestões financeiras vem acumulando desastres. A cidade tem um buraco financeiro de quase R$ 1 bilhão e precisa de pelo menos mais R$ 2 bilhões para colocar a casa em ordem. Nosso orçamento é de R$ 6 bi. Essa é a herança que vem sendo formada desde o período de Nelsinho Trad, passando por Bernal, Olarte, Marquinhos e Adriane Lopes.

Ninguém se dispôs a mexer com seriedade com essa verdade inconveniente porque fere interesses petrificados: os salários do funcionalismo têm imensas distorções, o buraco da previdência é profundo, há muitas obras paradas, a malha viária está esfarelando e os setores de saúde e educação apodreceram.

Tem mais: há muita corrupção instalada, há privilégios tributários, a mobilidade urbana está desatualizada, sem contar uma ociosidade crônica da força de trabalho.

Engraçado, quando assistimos as propagandas dos candidatos todos os nossos problemas são tratados superficialmente. A imprensa até que se esforça, mas redunda na mesmice, com questionamentos que não mergulham nas profundezas de nossas dificuldades.

Sinto que poucos profissionais da mídia se preocuparam em estudar Campo Grande, ouvindo especialistas, urbanistas, gestores, economistas e mesmo políticos que já ocuparam posições relevantes na cidade podem contribuir, desde que desinteressadamente.. 

O que sabemos sobre a cidade são as reclamações costumeiras. A prefeitura não é transparente o suficiente para proporcionar ao cidadão uma visão ampla e profunda de como estamos no cenário das demandas sociais e urbanas destes novos tempos.

Todos os candidatos encenam, no plano discursivo e teatralizado, seu populismo de ocasião. Não há como fugir disso. Mas numa visada geral, minha opinião é de que Rose Modesto cultua aquele populismo que vem sendo a tradição nefasta em Campo Grande nos últimos tempos.

Reconheço que, neste aspecto, ela é autêntica. Ela mente e manipula de maneira escancarada. Ela pratica aquilo que os especialistas chamam de "estardalhaço populista".

Seu método de aliciamento é direto. Vi um programa em que ela mesma entrevista pessoas nas ruas, ouve a reclamação e diz que "isso vai acabar", ou seja, ela aposta no não-racional, explorando despudoradamente a vulnerabilidade das pessoas, consciente que está encenando uma grande fantasia.

Rose dá a impressão que traz no peito um ressentimento social cultivado por longos anos no qual ela se sentia rejeitada por não conseguir fazer parte dos grupos de "elite". Mas reparem que isso é um preconceito lastreado num engodo mental.

Ela sempre esteve vinculada ao poder, mas mesmo assim suas raízes não permitiam que ela incorporasse o sentimento de pertencimento. Por isso, a mágoa, o ranço, a máscara, a personalidade difusa, que termina se revelando, da pior maneira possível, quando ela chegar ao poder. Escrevam. Quem viver, verá.

Já Beto Pereira, Adriane Lopes, Camila Jara, Beto Figueiró , Luso Queiroz, independentemente de seus apoios, partidos, ideologias, têm a alma leve, não trazem aquele peso da falsidade, do jogo escondido.

A turma do PT e apoiadores de Rose, por exemplo, têm reclamado de Beto por causa do uso de um martelo como forma de simbolizar sua força de vontade para dar conta dos problemas da cidade.

Sei que é meio ridículo, parte do seu teatro populista, mas me pergunto até que ponto essa é a questão central de sua campanha, de seu estilo, de sua história política? O eleitor que avalie. Essa é mera opção discursiva, para atrair a atenção de um público que até agora não se motivou com o processo eleitoral, e não fere suscetibilidades daqueles que entendem que esse é apenas um jogo político.

Digo abertamente: temo a eleição de Rose. Caso ela seja eleita (já que ela está em primeiro lugar nas pesquisas) Campo Grande vai continuar aquele mesmo caminho que decidiu trilhar com Bernal & Cia. Se é isso que povo deseja, beleza, respeitemos a democracia, e continuemos em frente rumo ao caos.