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Alexsandro Nogueira: A ciência na porta da Arca de Noé

 

O assiriologista britânico Irving Finkel, 
curador do Museu Britânico -

Por essa, Richard Dawkins – o mais famoso dos ateus - e seus seguidores não esperavam. O ImagoMundi, esta fascinante placa de argila babilônica do século IX a.C., muitas vezes chamada de "mapa do mundo mais antigo da História", finalmente foi decifrada após um século e meio de mistério. E o que temos? A localização de uma construção que alguns de nós conhecemos como a arca de Noé.

O assiriologista britânico Irving Finkel, curador do Museu Britânico, que mantém essa preciosidade em seu acervo desde 1882, revelou ao público, em um vídeo recente(https://www.youtube.com/watch?v=LUxFzh8r384&t=300s&ab_channel=TheBritishMuseum) que, por muitas décadas, a decifração da escrita cuneiforme era impossível, devido a uma peça faltante.

Até que, em 1995, sua aluna, Edith Horsley, fez a descoberta que mudou tudo: uma parte perdida e esquecida dentro de uma caixa. Juntos, Finkel e Horsley deram nova vida a um mundo que, de certa forma, muitos ateus parecem querer ignorar — o mundo da fé, tão vital quanto o material.

Finkel afirma que este mapa circular explica vida, a morte e a prosperidade da Mesopotâmia, cortada pelo rio Eufrates. E nas margens desse "rio amargo", montanhas que guardam criaturas míticas e um mundo além do conhecido.

Mas o detalhe mais intrigante, que talvez não agrade aos céticos, é a menção a uma embarcação chamada "parsiktu".

Finkel aponta que essa palavra aparece apenas uma vez em outro texto babilônico, a "Tábua da Arca", que narra as aventuras de Ziusudra — o Noé dos babilônios. O que seria da fé sem um pouco de história, não é mesmo?

A narrativa da tábua sugere que a arca foi construída por volta de 1800 a.C. para enfrentar uma catástrofe, e ficou presa em uma montanha chamada Urartu. O Imago Mundi nos fornece as instruções para chegar até lá.

Curiosamente, o relato bíblico também menciona que a arca de Noé ficou presa em uma montanha chamada Ararat. Coincidência? Finkel não acredita nisso. Para ele, essa continuidade entre as histórias mostra como a narrativa bíblica, por mais que os ateus queiram desdenhar, é uma força poderosa que liga passado e presente.

Ao olharmos para este mapa, somos lembrados de que a história e a imaginação estão entrelaçadas, e, talvez, existam conexões mais profundas do que o ceticismo permite enxergar. Afinal, o que seria da nossa busca por significado se não pudéssemos navegar também pelas águas da fé?

Alexsandro Nogueira é jornalista, escritor e músico. Colaborador do Blog