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A questão ideológica na eleição de Campo Grande

 

Rose Modesto, Camila Jara e Beto Pereira -

O eleitorado que acompanha o noticiário político em Campo Grande anda reclamando que está todo mundo jogando parado. Pode ser. Mas devemos reconhecer que há nichos se movimentando, talvez aguardando o começo a propaganda eleitoral gratuita no final do próximo mês. Geralmente, é a partir dái que a coisa esquenta.


Por enquanto, as redes sociais divulgam pré-candidatos andando pra lá e pra cá, em movimentos tortuosos para entreter as massas votantes, embora no fundo isso não signifique muita coisa porque estamos todos escolados sabendo que nada disso se trata do mundo real.

Nos últimos dias, depois que o PSDB fez uma movimentação brusca de atração do bolsonarismo para a campanha de Beto Pereira os demais candidatos congelaram.

Passado o impacto, alguns começaram a falar. A prefeita Adriane Lopes vestiu a roupa de pastora e começou a falar em deus, naquela típica pregação evangélica que mistura cristianismo primitivo com tons apocalípticos, numa pegada alarmista e meio surtada, alertando que o diabo anda à espreita e nosso destino corre perigo.

Depois, numa entrevista, ela atacou Bolsonaro por ter desconsiderado um acordo feito com ela e a senadora Tereza Cristina, apelando que ambas representam os verdadeiros valores do conservadorismo, dando, pela primeira vez em sua vida, um tom ideológico em sua campanha.

Não sei se a nossa prefeita sabe do que está falando, ou que ela alguma vez na vida leu livros sobre o pensamento conservador e liberal, ou então, sobre os modelos de progressismo que circulam nas franjas do Marxismo ou nos textos de Gramsci ou outros mais ou menos cotados.

Na verdade, nem mesmo a senadora Tereza Cristina pode nos tentar convencer de que ela é uma mulher de direita porque já esteve no comando do Partido Socialista Brasileiro (PSB) em Mato Grosso do Sul, foi militante tucana, enfim, pulou de partido em partido em todos os seus anos de política, só não se filiando do PT por falta de oportunidade.

Ela é uma metamorfose ambulante, não dando a mínima pelo para esse papo de ideologia.  

Dona Tereca certamente professa a fé liberal, embora não faça formulações teóricas em torno do assunto. Culturalmente, ela é rasa, mas tem vivência internacional suficiente para perceber os grandes movimentos da geopolítica mundial, principalmente no que tange ao mundo do agronegócio.

Já a professora Rose Modesto dificilmente conseguiria fazer qualquer formulação ideológica, pois sua cabecinha é de pequeno alcance, adicionando o fato de que ela não tem curiosidade nem disposição para aprender nada que vá além das briguinhas paroquiais de nossa política, principalmente se envolver denominações de igrejas evangélicas.

Nem tentem buscar profundidade no pensamento de Rose, coisas que envolvam urbanismo, ecopolítica, responsabilidade fiscal, economia digital etc, pois o que virá será uma coisa confusa sem pé nem cabeça.

Sei que esse não é o caso de Beto Pereira porque ele abre oportunidade para conversas abertas, tem curiosidade quando desconhece o assunto e gosta de estudar assuntos que lhe propõem e lhe interessam. Beto não tem vergonha de aprender, sua linha telefônica está sempre aberta para questionamentos, e recebe críticas com paciência sempre apresentando argumentos razoáveis.

Beto não é homem de esquerda - como seu pai, ex-deputado e ex-senador Válter Pereira - mas têm tendências liberais progressistas, algo longe do Bolsonarismo, mas é pragmático o suficiente para o convívio com qualquer outra corrente política. 

Certamente, ele tem lá seus problemas conceituais, mas exibe plenas noções de como se comportar democraticamente num ambiente multifacetário e polarizado de campanha.

Os demais candidatos são refratários a jornalistas, não fazem interlocução para explicar as razões de suas respectivas campanhas, movidos sempre (essa é a impressão) de que, para eles, a imprensa só deseja uma coisa: dinheiro. Não lhes passa pela cabeça que existe jornalista que deseja traduzir o perfil daqueles que se propõem à incumbência para melhor avaliação do eleitorado.

Confesso que não conheço Camila Jara. Nunca conversei com ela. Sou contemporâneo de seu pai, jornalista Gerson Jara, quando atuamos no sindicato dos Jornalista de MS. Não tenho boas recordações desse período. Mas o tempo passou, e espero que isso tenha melhorado aquela cabeça de vento. Se não, e ele exercer alguma influência política sobre as concepções de Camilinha, estamos perdidos.

Sei que ideologia e partidarismo não são o forte dos nossos candidatos, com as exceções de praxe. Mas estes aspectos ajudam a moldar as personalidade e, dependendo do entorno, direcionam a administração. 

Nossos candidatos não são leitores, homens e mulheres de cultura, pessoas com grande bagagem iluminista, pensadores profundos, embora representem uma média intelectual da nossa sociedade.

Se eu tivesse que dar alguma dica sobre os nomes postos, diria: não olhem apenas o candidato, observem quem são as pessoas que estão em seus entornos, influenciando, dando ideias, formulando conceitos, orientando princípios éticos e morais.

O resto será mera consequência...