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Jaceguara Dantas da Silva, uma brasileira acima de qualquer suspeita


Tenho visto aqui e ali, ainda que de maneira tímida, movimentação política envolvendo parlamentares, intelectuais, servidores públicos, jornalistas, inclusive o próprio governador Eduardo Riedel e sua esposa, dona Mônica, tentando criar uma onda que possa favorecer a apreciação do nome da desembargadora Jaceguara Dantas para o cargo de Ministra do STF, na vaga aberta em decorrência da aposentadoria da Ministra Rosa Weber.

Dia desses, Wander Loubet e Camila Jara, ambos deputados federais, estavam tentando agendar uma audiência com o Presidente Lula para colocar o nome de Mato Grosso do Sul na mesa para ser avaliado. Enfim, aos poucos cresce o sentimento de que a desembargadora Jaceguara possa fazer a diferença no debate nacional sobre quem poderá ocupar a vaga no STF.

Existe nacionalmente uma reivindicação da parcela mais progressista da sociedade tentando sensibilizar Lula para indicar uma mulher negra para o STF. Lula tem se mostrado relutante e avisou que gênero e cor não pautará, necessariamente, essa escolha.

A prerrogativa é exclusiva do Presidente. Conceitualmente, ele está correto. O critério para a indicação deve ser mais amplo e não se resume às questões identitárias em voga muito menos ao que hoje os americanos chamam de movimento Woke (despertar).

Mas o nome da desembargadora Jaceguara Dantas transcende essa questão, não somente pelo preparo técnico, com currículo de excelência, mas pela sua história de vida, sua honradez e sua coerência política no sentido republicano do termo.

Fui colega de Jace - era assim que a chamávamos - na faculdade de direito da Fucmt nos anos 80 e pude acompanhá-la de perto, principalmente no período de transição entre o regime autoritário e a democracia. Preciso ressaltar que ela nunca foi uma ativista tresloucada muito menos uma catilinária inconsequente, algo que se faz importante observar nos tempos que correm porque vivemos uma fase com muitos personagens esquisitos querendo ocupar o centro do palco. 

Digo isso porque Jaceguara sempre posicionou-se com equilíbrio, com olhar para frente, nunca sendo atraída por ideologias exóticas nem pelos modismos do pensamento. Estudiosa, focada, inteligente, às vezes cautelosa demais, ela, com seu jeito suave, seu olhar expressivo, foi conquistando admiração, respeito, tornando-se referência do movimento negro sul-mato-grossense, não somente pela capacidade de articulação, mas pela suavidade com que ocupou espaços institucionais na advocacia, na academia e no Ministério Público estadual.

Sua escolha para ser Desembargadora do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul foi um gesto sábio e redentor do ex-governador Reinaldo Azambuja.

Tivemos a oportunidade em tempos remotos de trabalharmos juntos em vários textos que depois se transformaram em manifestos públicos em defesa dos direitos humanos, pelo respeito às mulheres e contra as desigualdades sociais.

Nos tempos atuais, afastei-me de Jace mais por circunstâncias geográficas e oportunidades domésticas, visto que a nossa geração está cada vez mais dispersa, às vezes por diferenças ditadas pela polarização, outras porque a vida tem nos colocado diante de caminhos transversais, contrariando nossos desejos e nossas vontades.

Mas quando soube que Jaceguara Dantas estava inserida no contexto do debate sobre a indicação do Supremo confesso que voltei a olhar com esperança sobre o que o destino reserva a este triste Brasil.

Não sei o que vai acontecer, não cogito sobre as verdadeiras intenções de Lula neste campo, não especulo sobre as complexidades do poder neste cenário árido em que estamos vivendo, mas tenho absoluta certeza de que se o presidente não olhar com atenção para a nossa Jace estará perdendo a oportunidade de conhecer um ser humano especial. 

Quem sabe, nossa Jaceguara consiga iluminar Lula com aquele seu jeito especial de ser. Vamos torcer.