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O texto e o contexto

Vocês estão vendo esta foto acima? Ela tem sido usada repetida vezes para ilustrar a "devastação" do pantanal sul-mato-grossense nos últimos dias. Em vários sites, jornais impressos, e também na TV, ela tem sido divulgada repetidamente para vender uma ideia falsa.

Uma fotografia nem sempre é um registro de um acontecimento. Pode ser um instantâneo de uma circunstância, que, repetida mil vezes, passa a ser a verdade do fato. O telejornalismo da Globo faz muito disso com suas imagens de queimadas na Amazônia, garimpo ilegal, desmatamento. Reparem: são sempre as mesmas imagens, na mesma linha de edição, a partir da mesma pauta, repetidas mil vezes até que a "verdade" se impõe, plena e incontestável.

(No final deste texto explico o que, de fato, representa a foto.)

O propósito não é informar sobre a degradação ambiental - que é um problema sério, relevante, fundamental para a humanidade - mas sim fazer alarmismo, estabelecer uma cultura do medo, uma distração do pânico coletivo, colocando de um lado os mocinhos (defensores do bem) e os bandidos (sórdidos capitalistas, gente que só quer ganhar dinheiro).

O que o cidadão (ã) não sabe é que o ambientalismo é um jeito bacana de ganhar muito dinheiro, viajar pelo mundo inteiro saltitando em Congressos, Fóruns, seminários (tudo realizado em hotéis e resorts das arábias) e ser, no fim de tudo, um lugar de pessoas fofas, sem o peso da responsabilidade de estudar o problema e encontrar soluções razoáveis para ele, com a vantagem adicional de vociferar contra o neoliberalismo e ficar com a consciência tranquila.

Posso dizer que sou um ambientalista para ficar legal na fita. Posso levantar a bandeira pela defesa do pantanal sem nunca ter aparecido por lá, ou conversado a sério com estudiosos do bioma. Confio na ciência, mas a imprensa local procura sempre primeiro o ministério público. Ou seja, substitui-se as informações científicas para divulgar o conhecimento agregado do ativismo judicial.

Aliás, a prática é manjada. São os fascistinhas da mídia buscando alguém que pratique sua tara de punitivismo, sem a responsabilidade de esclarecer o que de fato está acontecendo.

Na edição de hoje (05/08) o Correio do Estado trouxe a lume o promotor Luiz Antônio Freitas de Almeida. Ele aparece pedindo que o Governo do Estado "embargue lavouras na região pantaneira".



Ao longo da matéria - confusa, por sinal pois cita pesquisas e leis que não sedimentam o valor real de sua tese - o novo "herói" do MP pontifica raciocínios assombrosos que trazem para os dias de hoje problemas que existem há mais de 30 anos em toda a região pantaneira.

Ele esquece de explicar qual sua posição no tocante ao dilema entre promover a produção sustentável do bioma, com uso de pesquisas da Embrapa Pantanal e outros órgãos e empresas, sugerindo abandonar tudo à própria sorte, implantando leis salvadoras e protetivas, embora inexequíveis no mundo real. O promotor parece que deseja ser voz ativa num serpentário no qual ele pouco está familiarizado.

Não o conheço pessoalmente. Deve ser uma boa alma. Mas só deixo um alerta: os holofotes quando bem utilizados podem ajudar a educar a sociedade, esclarecer os incautos e assustar os bandidos. Se eles forem mal utilizados, prejudicam a coletividade, contribuindo para mistificações falsamente redentoras. Fique atento, amigo. Boas intenções às vezes ludibriam homens virtuosos, beneficiando os canalhas.

Agora, vamos à foto: cerca de 50% da área do pantanal estão fora as regiões alagáveis. Elas estão em grande parte situadas no chamado Cerrado Pantaneiro. Esse território tem terras ruins, baixa produtividade, fauna escassa, coberta por gramíneas naturais. A atividade pecuária ali se adaptou, com baixíssima produtividade. O Governo, por meio de autorização do Imasul, tem permitido a substituição de pastagens. Ou seja: o produtor suprime a pastagem natural e implanta uma nova espécie estudada e aprovada pela Embrapa. Enquanto a nova grama não nasce, a imagem dá uma falsa impressão de devastação. E assim a picaretagem deita e rola.