Walter Delgatti, na CPMI dos Atos Golpistas
Hoje acompanhei o show da mais nova celebridade política do momento: o hacker Walter Delgatti, pontificando sobre tudo e todos, entregando o ouro, comprometendo Bolsonaro & Associados como nunca, dando esperança para a franja Lulista de que vai ter prisão do inominável logo ali na frente. Gostei do que vi. Não morreremos de tédio. Pelo menos de "tédio profundo", na definição do filósofo Byung-Chul Han, no seu sensacional livreto "Sociedade do Cansaço".
Dois momentos me chamaram a atenção: o embate de Delgatti com o senador Moro (que quase foi a nocaute) e a demonstração de medo ou cautela (de Delgatti) quando foi perguntado pelo senador Flávio Bolsonaro sobre irrelevâncias (aliás, indagações formais e até judiciosas).
Observando o jogo de cena e a teatralização da CPMI dos Atos Golpistas, e seguindo em paralelo as reações nas redes sociais e a repercussão na imprensa (o que forma a essência do que chamamos phatos contemporâneo), me vem à cabeça uma frase do mesmo Han, na qual ele diz que "as mais recentes evoluções sociais e a mudança de estrutura da atenção aproximam cada vez mais a sociedade humana da vida selvagem".
No sumo de todo esse processo o único resultado que poderemos prever com certeza é de que haverá cada vez mais radicalização e polarização e, em longo prazo, não haverá vencedores nem derrotados, mesmo porque as instituições perderam a credibilidade e, consequentemente, a autoridade para mediar fatos e estabelecer um critério de justiça que seja consensual no País.
Estamos na savana em luta feroz de uns contra os outros, tentando impor narrativas convenientes numa "comunidade de espreitadores", sabendo de antemão que só há uma certeza: a carnificina vai continuar até o momento em que a sociedade entre em catarse, com consequências inimagináveis.
Viver no Brasil é triste. Minha geração, que já está indo embora (todo o dia perco um amigo ou recebo notícias do falecimento de conhecidos, muitos inclusive vivendo no mundo das celebridades), deixará para a moçada que vêm por aí o drama gerado pelas desigualdades, a naturalização da ladroagem, a violência atávica, a deseducação, pouca saúde e muita saúva.
Assistindo hoje a CPMI fiquei triste, apesar dos lances de pugilato verbal até engraçadinhos, e, no final, veio aquele sentimento de desistência e cansaço. Estamos fodidos.