Pages

Em defesa de Zeca e Tereza Cristina


Não morro de amores por Zeca do PT nem pela senadora Tereza Cristina. Acho que ambos trazem os vícios e as virtudes daqueles que abraçam a carreira política como modo de vida.

Zeca é pendular, ora aparece como um radical de esquerda, ora como homem de direita, ora como moderado, ora como maluco, enfim, segue a velha escola do ser uma metamorfose ambulante quando lhe convém.

Tereza é de outra estirpe, navegou na social-democracia, desviou-se para a esquerda, depois se acomodou nos braços do bolsonarismo, virou ministra, agora é senadora; mais tarde, talvez, ninguém sabe o que será. Ou melhor: será aquilo que as circunstâncias momentâneas apontarem qual rumo seguir. Trair é um verbo que ela conjuga rindo como uma dama titilando nos salões dourados.

Mesmo assim, ambos tem qualidades no que toca a experiência política, conhecimento e intuição sobre o que é razoável e decente perante o momento histórico. É inegável que tanto Zeca como Tereza tem uma visão abrangente do Brasil e suas mazelas. Eles sabem a hora de agir e como agir.

No fundo, os dois têm certa proeminência na classe política sul-mato-grossense não só pelo que já foram, como também pelo que passaram, comendo poeira e mastigando a dura matéria que a sociedade oferece no cotidiano dos interesses mais diversos surgidos de todos os lados. Eles são bons no que fazem, pelo bem e pelo mal.

Prefiro não entrar em detalhes. Todos somos velhos o suficiente para compreender que a vida está mudando, os tempos são outros e alguém tem que colocar a mão na merda para que não continuemos a repetir os erros que fizeram do País o que ele é nos dias que correm.

Zeca, por exemplo, está sendo admoestado de maneira covarde e abjeta pelo partido que ajudou a criar e ser o que é. Bastou-lhe tomar uma atitude civilizada, rendendo uma homenagem ao ex-presidente Michel Temer, por conta do papel que este teve na implantação da rota bio-oceânica (um projeto que foi a razão de viver de seu irmão, Heitor Miranda), para que o diretório estadual do PT lhe fizesse picadinho moral.

O petismo local vive naquele tempo que acredita com toda a convicção que Dilma Rousseff foi golpeada pelo ex-presidente, quando todo mundo sabe que naquele processo houve inclusive articulação de Lula, Lewandovisk, Renan Calheiros e a opinião pública, majoritariamente, num conluio no qual todos desejavam o impeachment, que ocorreu dentro das regras constitucionais, mesmo com a manobra duvidosa que a manteve elegível, num dos maiores absurdos da jurisprudência brasileira.

Zeca conhece profundamente a história, e sabe que está passando da hora de jogar fora velhos ressentimentos, mesmo porque isso só fortalece a direita e seus extremos, o que constitui um perigo que continua a nos espreitar.

Tereza, por sua vez, está corretíssima em ficar indignada com a manobra de Marina Silva ao instrumentalizar o Conama para tutelar de maneira ilegal as decisões tomadas pelo Mato Grosso do Sul no diz respeito às normas de licenciamento ambiental na região do Pantanal.

A senadora sabe por conhecimento técnico que a Ministério do Meio Ambiente está cometendo uma vilania em assuntos que não lhe compete. Cabe ao Mato Grosso do Sul decidir o que é melhor ou pior pra si.

O ambientalismo doidivanas e anticientífico não podem usurpar e mudar a natureza de consensos locais, vergando um contrato social feito na ápoca do governo Azambuja sob o amparo das leis vigentes.

A senadora afirmou que se trata de decisão ideológica. Acho mais do que isso: é o autoritarismo se manifestando da pior maneira, desrespeitando a autonomia dos Estados e municípios no que concerne ao tema.

Tereza Cristina age na linha certa. Se lutamos sinceramente por regras democráticas devemos compreender que às vezes temos que aceitar aquilo que contraria a fé cega de muita gente, permitindo que o amplo debate encontre consensos longe de bobagens místicas, descartando os discursos oportunistas daqueles que acreditam que a luz da verdade é a dos holofotes.