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O dilema entre Azambuja e o seu Capitão do Mato


 


    • Dante Filho******
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    • Aparentemente, o governo de Reinaldo Azambuja vai bem. 

    • Desde que eclodiu a pandemia ele não enfrenta crises fundamentais. 

    • Mesmo assim, a capivara da JBS e a bagunça criada pelo seu filho, Rodrigo Azambuja, e uma renca de assessores loucos por dinheiro, ainda está por aí, sob controle, aguardando decisões judiciais.

    • Precisou de 6 anos de Governo para que Azamba percebesse o que aconteceu no começo de seu primeiro mandato; ou seja: coisa de gente celerada, que vê a coisa pública como caixa particular, e entra de cabeça sem nenhuma desfaçatez moral para se dar bem na vida sem prestar contas a ninguém. 

    • Há suspeita de que nosso Governador comandou uma organização criminosa para fazer um caixa robusto para sustentar os caprichos políticos e pessoais da República de Maracaju.

    • Depois da investigação da PF, de delação premiada, do escândalo divulgado na imprensa nacional, prisão de maganos e tantos ranger de dentes, Azamba moderou-se, afastou-se de alguns personagens mais comprometidos, contratou dezenas de advogados, e assim vem se arrastando, esperando uma mudança de ventos, na qual prevaleça a lógica de Gilmar Mendes e Ricardo Lewandovisk e do grupo Prerrogativas,  cuja visão do direito é a aquela que prevalece desde o Brasil Império: rico não vai preso.


    • Assim, os ventos atuais, de explícita reversão de expectativas, o judiciário vem demonstrando que o crime compensa. 

    • O governador espera ser salvo por esta onda anti-punitivista que passou a vigorar em nossos tribunais.

    • Enquanto a vida corre, Reinaldo finaliza seu governo, tentando aproveitar a onda que possibilitou que o caixa do tesouro esteja numa situação tranqüila (paradoxalmente, fruto da pandemia), que a imprensa esteja pacificada, a classe política domesticada e os servidores controlados. 

    • Azamba não quer, definitivamente, ficar na história como criminoso.

    • Em termos eleitorais, a única preocupação de Azamba parece ser  André Puccinelli. 

    • A movimentação de Marquinhos Trad, no final do ano passado, anunciando que poderá sair candidato não altera o quadro. Sua candidatura ao Governo virou piada de salão.

    • Por isso, há um esforço muito grande do PSDB compor com o MDB para garantir espaço à Puccinelli ou esvaziá-lo para sempre. O jogo está sendo jogado.

    • Enfim, Azambuja escolheu um candidato para sucedê-lo de bom perfil gerencial, meio tímido em decisões políticas, embora possa surpreender lá na frente, com a prática e o manejo da tropa. 

    • Os críticos da política apontam que Eduardo Riedel não decola nas pesquisas, mas parece que esse não é o interesse do momento. 

    • A estratégia parece ser a de garantir um grande acordo das elites e, depois disso, buscar votos no povão.

    • Enfim, não quero ser cansativo. Azamba navega em águas tranqüilas a custo de muito dinheiro, mas terá que enfrentar o mundo real se o ambiente mudar e seu caso tenebroso entrar no túnel das decisões concretas, com gente que carrega sangue nos olhos.

    • Não será ameaçando jornalistas, comprando juízes e promotores, fazendo acertos nebulosos, que casos como o da Operação Vostok e outras desaparecerão na fumaça diáfana dos acontecimentos, apagando os depoimentos de delações premiadas nada agradáveis de se ler.

    • (Escrevo isso porque recentemente fui interpelado judicialmente pelo governador por causa de uma firula contida num artigo que escrevi sobre Murilo Zauith , numa clara demonstração de intimidação sobre uma teratologia judicial).

    • Azambuja perdeu o time quando teve a chance de apostar numa reversão sistemática de conduta mostrando para a sociedade que o tempo da roubalheira tinha acabado, que não toleraria desvios, insinuações, pois afinal gostaria de deixar um legado no qual assuntos como esses fossem uma pequena mancha que seria apagada pelo tempo.

    • Mas não. A cada movimento político, seu entorno não dava margem de confiança de que haveria sistemático combate à corrupção. 

    • Claro que o governo tem uma banda saudável, gente honesta e qualificada, mas basta uma ordem de um bandido qualquer que habita a cozinha do governador para que todos tremam de medo. Poucos têm coragem de peitar.

    • Mesmo assim, no fechamento de seu governo, Azamba pode acenar com o republicanismo e com a ética ao tomar uma decisão ousada, sem aparentar ser um covarde diante do tutor. Mas não é o que parece.

    • Outro dia, o governador ganhou pontos ao escolher para o cargo de desembargadora do TJ-MS a advogada Jaceguara Dantas, uma personagem cuja imagem é irretocável, não só pela honradez e capacidade, mas por representar uma honestidade inabalável.

    • Mas agora a conta é outra. O próximo boleto que vence é o do rumoroso caso da escolha do novo conselheiro do Tribunal de Contas, que poderá servir de exemplo da marca que Azambuja deixará para a história.

    • Não que ele possa ser condenado por ter feito uma escolha duvidosa. André Puccinelli, por exemplo, transformou o TC num cabaré de quinta indicando Valdir Neves, Marisa Serrano (que se aposentou precocemente por razões até hoje não devidamente explicada), Jerson Domingues e Osmar Gerônimo.

    • Na verdade, a história do TC não é edificante. A maioria dos Conselheiros tem aquela típica prepotência imperial de jamais serem julgados por uma visão crítica que possa apontar as contradições entre a função da instituição e as personalidades que a integra. Os fatos – soberbos, imperativos, determinantes – estão aí para dizer.

    • Diante disso, Azamba pretende coroar sua gestão indicando seu Capitão do Mato para a função de conselheiro, numa manobra política que envolve inclusive o crime organizado, tudo abençoado pela Assembléia Legislativa. 

    • Segundo dizem, será uma forma de agradecimento a tantos serviços prestados a ele e à família por quem fez sua história, colocando a mão na m., cometendo ilicitudes e até crimes puníveis pelo direito penal.

    •  O Governador Reinaldo de Paula, ops, desculpe, Azambuja, tornou-se serviçal de seu Capitão do Mato, que agora, no fim da administração, deseja ser pago com o cargo vitalício, devidamente protegido pelo cipoal de leis que garante relativa proteção a quem suspeita-se que flerta demais com o crime e de menos com o Estado Democrático de Direito.

    • Do meu ponto de vista, Azamba poderá sair do Governo mais limpo, cheiroso, de banho tomado caso escolha alguém menos “visado”, mais preparado e comprometido com uma agenda moderna de conduta pessoal em cargos de controle de contas públicas.

    • Sabe-se que a atual composição do TCE não é exemplar, estando distante dos conceitos de transparência , accountability e ajustamento de condutas. 

    • Azambuja teria a oportunidade de ouro de fazer uma escolha de alto nível técnico e elevado padrão moral.

    • Mas a cabeça de Azamba é pragmática. Ele sinaliza que fará uma escolha como se TC fosse uma instituição que se insere num nicho de negócios privados do Estado. Lamentável. Depois veremos a sociedade reclamar sobre a inocuidade do TC e sua eterna vocação para ser a casa da mãe Joana.
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