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Antonio Perez: Suicídio entre médicos

Não sei das razões que levaram nossa ex-aluna e colega Valquíria a acabar com a própria vida e a do seu filho. E assim também do colega Pistoia ao dar um tiro no peito. Isto só para citar essas duas pessoas. 

Sei somente que os recentes casos de suicídio entre nós médicos vêm atingindo níveis desproporcionais. 

Em setembro/2016 essa questão foi debatida no Encontro Nacional de Conselhos de Medicina. Segundo a psiquiatra Alexandrina Meleiro, estudos internacionais indicam que, e entre os médicos há cinco vezes mais suicídios do que entre pessoas da população em geral.

Uma média de um suicídio por mês está sendo registrada entre os médicos pernambucanos em 2016. As mortes ocorrem em todas as regiões. Em geral, são profissionais com mais de 50 anos, carreira sólida e família constituída. Para os outros, uma vida perfeita e uma profissão dos sonhos. Por dentro, o emocional quebrado. 

A nosso ver são vários os fatores, vejamos alguns. 

Muitos pais acreditam que a medicina é o sonho dourado para o futuro de seus filhos. Muitos às vezes não levam em conta o objetivo deles. Influenciam na escolha da vocação, pensando que estão fazendo um grande bem. Ledo engano. 

Estudamos loucamente para passar num vestibular dos mais concorridos. Passamos, ufa! que nada!, o pior ainda está por vir, serão seis anos de muito esforço e dedicação, mais três  a cinco anos de especialização. Somando tudo dez ou mais anos só de estudo.

Entramos no mercado de trabalho, com concursos, plantões, pressão, atualização, provas e mais provas. Inevitável o desgaste físico e emocional. Isso quando não vem um governo incompetente, criando o "programa mais médicos", sem observar o mérito. 

Enfrentamos hoje, na saúde, uma epidemia de desesperança e tristeza. É cruel o médico decidir quem vai para uma única vaga na unidade intensiva e vendo macas com doentes nos corredores. 

Nós médicos ficamos facilmente frustrados por causa da nossa necessidade de realização profissional e como pessoa humana.

Devido a sobrecarga de trabalho, falta de apoio estrutural e compreensão da nossa difícil missão nos isolamos socialmente, desde a faculdade. 

Encontramos em precária situação de emprego. Com remuneração baixa, somos obrigados a atender os pacientes em grande quantidade, sem poder fazê-lo com qualidade devida. 

Para piorar, a situação conjugal fica ruim e nem vemos nossos filhos crescerem. 

Temos conhecimento e facilidade em manipular medicamentos, algo perigoso. Somos  impregnados por essas drogas, aí vem licenças médicas, com isto cai remuneração, já não se percebe se o pior é a doença ou efeitos destes tratamentos, mal conduzido.

Tudo isso é suficiente para produzir a ansiedade, a depressão, a hipocondria, o abuso de álcool e outras substâncias, que, infelizmente, podem culminar no suicídio.

Mas há os colegas que estão longe desta triste realidade, sendo a maioria deles fortes e convictos nesta nossa árdua jornada hipocrática. Devemos estar atento a este alerta dado. 

A vida de nós médicos não anda fácil e sei que está difícil de encontrarmos uma saída, porem devemos expor nossas feridas, para depois acharmos uma cura. 

Medico/Campo Grande