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Paulo Cabral: O Dilema do segundo turno


Nas cidades com mais de 200.000 eleitores, se no primeiro turno nenhum dos candidatos obtiver votação superior à metade dos votos válidos, os dois melhores classificados disputam nova eleição, em segundo turno. De nosso Estado, só a Capital se enquadra nessa situação.

Na disputa em curso, a rigor, os dois postulantes, Marquinhos Trad, pelo Partido Social Democrático – PSD - e Rose Modesto, pelo Partido da Social Democracia Brasileira – PSDB - pouco se diferenciam, a ponto de suas agremiações terem nomes análogos;ambos são evangélicos, situam-se no campo conservador e, por isso, eventual diferença de gênero acaba diluída nessa matriz. 

No tocante a ideologia, princípios, doutrina e programas eles sequer os mencionam, restringindo-se aos roteiros pautados por marqueteiros, a partir da angústia dos cidadãos captada em pesquisas sobre o cotidiano da cidade.   

Fragmentam o universo urbano em setores estanques e nenhuma questão de fundo é abordada, ou análise abrangente é oferecida, ou ideia de planejamento global é proposta. Acenam com promessas pontuais que vão da melhoria da saúde, essa surrada bandeira eleitoreira, ao ajardinamento de praças; de um trânsito melhor à cantilena da eficiência da gestão, e daí por diante. 

As duas campanhas se igualam com essa estratégia e nas ofensas pessoais, ambas na vala comum dos clichês sacados pelo “marketing” para o engodo eleitoral.

Entretanto, se analisadas do ponto de vista político, elas expressam conteúdos distintos. A candidatura da vice-governadora aponta para uma perspectiva hegemônica, já que os executivos estadual e municipal estariam em mãos do mesmo partido, assim como no passado com Puccineli e Nelsinho. 

Além do mais, a própria candidata alardeia como trunfo a robusta bancada que sua coligação emplacou na Câmara Municipal. Isso, longe de ser um fator positivo em si, pode resultar em um Legislativo tíbio, subordinado à Prefeitura. 

Esse filme já vimos!

Quanto ao deputado Marquinhos, sua candidatura, embora contra-hegemônica, carrega o estigma do passado. Conforme o candidato afirma, ele não é o  ex-prefeito;ainda assim, a carga familiar é muito poderosa, para o bem e para o mal. 

E aí é preciso lembrar que nas duas gestões de Nelsinho, assistiu-se ao clã Mandetta-Trad ocupar muito espaço. A secretaria municipal de saúde, na primeira gestão foi destinada ao primo Luis Henrique Mandetta e na segunda ao cunhado Leandro Martins, pai do vereador Otávio Trad. O primo, vereador Paulo Siufi obteve, com apoio do prefeito, trânsito privilegiado na Casa. 

O então concunhado João Amorim abocanhou gordas licitações hoje investigadas pela Operação Lama Asfáltica, sem dizer da nebulosa antecipação do contrato de concessão do transporte público e do contrato para coleta de lixo. Esse passivo é fato.

No caso de Rose Modesto, a perspectiva hegemônica está posta e não há como revertê-la, o máximo que seus gurus poderão fazer é tentar omitir esse dado do cardápio. Já Marquinhos Trad dispõe de maior espaço de manobra. Pode, por exemplo, assumir princípios republicanos com o compromisso de governar sem a parentela, sinalizando critérios impessoais para compor seu secretariado. 

Parece que nos encontramos em um beco sem saída, mas cada eleição é um novo exercício para se consolidar a Democracia, conquista que exigiu muita luta. Não devemos e nem podemos nos omitir.  Façamos valer o nosso voto em prol de Campo Grande, por Uma Cidade Democrática. 

*sociólogo, professor e membro do movimento Por Uma Cidade Democrática