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A máquina


Tenho vários amigos no tucanato. Dificilmente, nos últimos tempos, temos conversado sobre campanha eleitoral. Para preservar amizades acho melhor não entrar em divergências estéreis . Por isso, conversamos sobre temas amenos, às vezes um filme, um livro, coisas do gênero. 

Mas ontem, numa mesa de café, o assunto veio à tona com certa força. Mais ouvi do que falei. O cara estava precisando desabafar. "Olha, vamos ganhar as eleições aqui em Campo Grande, tenho certeza". 

Quis saber a razão. Ele não se fez de rogado: "agora temos a máquina, entendeu? Temos a máquina. E estamos usando pesado, como todos os outros fizeram. Ora, a máquina é pra isso mesmo: ganhar as eleições, tratorar, passar por cima...não fizeram isso com a gente a vida inteira? Pois é, agora é a nossa vez!"

Respirei, olhei para o chão, vesti a roupa de jornalista e perguntei com calma para o amigo exaltado: você acha que isso funciona? Estou vendo tanta desesperança e raiva, tanta indecisão, acho que ninguém está olhando com bons olhos abusos de poder; você não vê as coisas dessa forma? 

O cara me olhou meio desarvorado e mandou bala: "você é um idiota, a gente vai para os bairros e aquele povão vem falar com a gente com uma vontade louca de ser comprado, querendo dinheiro, isso e aquilo, e nós mandamos ver, prometemos, damos esperança, falamos que o governo vai fazer e acontecer, as pessoas ficam loucas, pedem santinhos, querem adesivos, falam mal do Bernal, da família Trad, e nós vamos entrando...vamos ganhar, vamos tomar conta da prefeitura, ninguém segura..."

Tomo o último gole de café e lanço a pergunta: e depois de ganhar, vai dar pra fazer essas coisas que estão sendo prometidas, vai dar para pelo menos arrumar a casa, dar um jeito na cidade? 

Meu amigo deu uma boa risada. "Meu querido, a situação está uma merda, acho que o Bernal vai deixar a prefeitura no buraco, não vai dar pra fazer muita coisa, mas pelos menos vamos colocar nosso pessoal pra dentro e esperar 2018. Com duas máquinas nas mãos - prefeitura e Governo do Estado - ninguém disputa com a gente, não! Vamos ganhar todas!". 

Dei tchau e quase fiz a última pergunta, mas o sujeito estava muito convicto e achei melhor não falar nada, embora tenha pensado: "não seria melhor dançar um tango argentino? Ir para Pasárgada?.Gritar que deverei gritar?".