Tenho aprendido muito sobre música com Maitê, minha filha de 14 anos. Não precisamente com aquilo do que ela gosta, mas por tudo que questiona tentando entender o que leva tanta gente mais velha como o pai a gostar do que lhe é esquisito aos ouvidos.
A conversa mais recente sobre o tema se deu há uma semana, quando ouvíamos música no carro. Enquanto escutamos “Lanterna do Afogados” de ‘Os Paralamas do Sucesso’, resolvi explicar a ela do que se tratava a música dessa banda quarentona tão conhecida por flertar com diferentes estilos.
Essa é uma das mais belas baladas da MPB e foi escrita em 1989, enquanto Herbert Vianna dava voltas de moto. A letra foi inspirada no enredo do livro romance Jubiabá, do baiano Jorge Amado, publicado originalmente em 1935.
Se para um cantor é algo que vai definir para onde uma canção irá, para nós, os fãs, pensar sobre o que cantamos nos protegerá da estupidez.
Passei uns 15 anos ouvindo ‘Helter Skelter’ dos Beatles, até descobrir que essa canção serviu de inspiração para o maníaco Charles Manson assassinar pessoas nos EUA, na década de 1960.
Infelizmente, nem todas as paixões são dignas de uma estátua e, pra mim, se tivesse que derrubar uma com um porrete seria essa que Paul McCartney escreveu em completo estado de alucinação ou possessão. Maitê concordou.
Como Os Paralamas não encantaram minha filha, coloco agora para ela ouvir a faixa ‘Oceano’ de Djavan, quando percebo que ela se interessaria por um rapaz que lhe mandasse uma mensagem ou um bilhete escrito pelo próprio punho com a frase “longe de ti tudo parou (...)”. Foi uma sensação estranha.
Daqui a alguns anos, ela deve gostar mais de Bruno Mars do que gosta hoje. Talvez se recorde dos dias em que íamos juntos para a escola, com o cantor havaiano nos acompanhando pelo som do carro.
Até lá, sigo aprendendo sobre o mundo adolescente por meio da trilha sonora que ela carrega no celular. E, enquanto isso, ela segue afinando meu gosto com sua playlist, sem saber que, a cada música, esta criando uma memória afetiva com o pai.