Gene Hackman, encontro morto em 26 de fevereiro, aos 95 anos,
depois de uma carreira de sucesso
A solidão do famoso decadente é mais cruel do que a solidão de um anônimo. Quem nunca provou a adulação não sente falta de afagos.
Mas quem já foi ovacionado se vê, de repente, como um sobrevivente de um tempo que não existe mais. Olha para o telefone e percebe que não toca. Sai à rua e percebe que ninguém repara. O que antes era um nome poderoso agora é apenas um eco distante, reconhecido por alguns, ignorado pela maioria.
Gene Hackman foi um dos maiores atores de sua geração. Dois Oscars, papéis icônicos e o respeito da crítica e do público. Em seus tempos de glória, Hollywood se curvava às suas interpretações. Retirado da vida pública há anos, Hackman morreu sozinho em sua casa no Novo México, sem alarde, sem ostentações, sem a comoção. Um final que não surpreende.
Há um momento particularmente humilhante nessa trajetória: quando se percebe que os olhares já não são de admiração, mas de constrangimento. O sujeito insiste em contar seus feitos, esperando o brilho nos olhos de quem ouve, mas recebe apenas um sorriso educado, um olhar de pena. Aquilo que um dia foi glória agora soa como anedota. O tempo foi impiedoso.
E o tempo, ‘esse escultor de ruínas’ (Eça de Queiroz), não perdoa ninguém. Celebridades do passado se apegam à nostalgia, mas a verdade é cruel e dolorosa: ninguém sente saudade do que já não importa.
Os holofotes não se apagam; eles apenas se voltam para outro rosto. E o rosto anterior, que já foi tudo, se torna nada. É o crepúsculo dos deuses.
Alguns tentam resistir. Aparecem em eventos, forçam polêmicas nas redes sociais, lançam livros que ninguém lê. Como quem bate na porta de uma festa e pede para entrar. Mas é um caminho sem volta. A fama e o poder, quando acabam, não deixam herança. O esquecimento é rápido e definitivo.
O que sobra, então? Para a maioria, apenas um senso de inutilidade e uma memória perturbadora. Os mais inteligentes aceitam a irrelevância com serenidade. Descobrem, ainda que tarde, que o aplauso nunca teve valor real. Que amigos de verdade não vão embora junto com a fama. Que a vida precisa ter significado fora das grandes vaidades.
Gene Hackman, ao menos, entendeu isso a tempo: afastou-se da ribalta antes de ser descartado. Morreu sem holofotes, mas em paz.
E talvez esse seja o único consolo: perceber que o erro não foi perder a fama ou o poder, mas um dia ter acreditado neles.